sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

GEIR CAMPOS - HERANÇA


   

HERANÇA

GEIR CAMPOS

Eu bem pudera, meus filhos, comprar um terreno
e construir nele uma casa, ou comprar a casa
em centro de terreno, e plantar em redor
preciosos pés de fruta, a escolher: - romã,
essa inconspícua até feia galáxia vegetal
por dentro tão numerosa em astros cor-de-rosa;
caju, malabarista apenas preso pelos pés ao trapézio; 
ou jaca, pejada colmeia de abelhas caroáveis;
laranja-da china, abacate, limão doce, tangerina;
pitanga, nua tangerinazinha miúda; abricó,
cujas folhas estralavam (como estralava o espanta-coió)
sem acordar São João nos frios junhos de minha avó;
e um começo de canavial; cajá; manga; tal e qual 
o arvoredo cobrindo a criança que eu era no quintal...
Eu bem pudera, meus filhos, levantar para vocês novamente
o que tive, tudo isso e algum sonho com destino omisso:
mas e eu lhes desse agora fragmentos do meu passado
não fora como dar-lhes um presente usado?

   

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