domingo, 5 de janeiro de 2014

ANTONIO CÍCERO - SAIR




SAIR

ANTONIO CÍCERO

Largar o cobertor, a cama, o
medo, o terço, o quarto, largar
toda simbologia e religião; largar o
espírito, largar a alma, abrir a
porta principal e sair. Esta é 
a única vida e contém inimaginável 
beleza e dor. Já o sol,
as cores da terra e o 
ar azul - o céu do dia - 
mergulharam até a próxima aurora; a 
noite está radiante e Deus não
existe nem faz falta. Tudo é
gratuito: as luzes cinéticas das avenidas,
o vulto ao vento das palmeiras
e a ânsia insaciável do jasmim;
e, sobre todas as coisas, o 
eterno silêncio dos espaços infinitos que
nada dizem, nada querem dizer e 
nada jamais precisaram ou precisarão esclarecer.

Nenhum comentário:

Postar um comentário