domingo, 26 de julho de 2015

WAGNER BORGES - HÁ ALGO MAIS... UM AMOR. UMA LUZ. - LXXVIII


               

HÁ ALGO MAIS... UM AMOR. UMA LUZ. - LXXVIII
                        
                             (poema recebido espiritualmente por Wagner Borges -
                            OS XAMÃS DA COLINA SAGRADA)

- A água é sagrada!
(Mas só a sede ensina isso).
- O fogo é sagrado!
(Porque representa a Luz).
- Os amigos são sagrados!
(Mas só a solidão ensina isso).
- O corpo é sagrado!
(Mas só a doença e a fraqueza física ensinam isso).
- A Mãe-Terra é sagrada!
(Mas só quem vive sabe disso).
- O Amor é sagrado!
(Mas só a dor de uma perda ensina isso).
- As estrelas são sagradas!
(Mas só quem expande a consciência sabe disso).
- Manitu* é tudo!
(O povo vermelho sempre ensina isso).
- A música é sagrada!
(É presente do Grande Espírito).
- O vento sussurra mensagens sutis...
(Mas só quem viaja pelo coração escuta).
- Todo homem é sagrado!
(Porque é filho do Grande Espírito)
- O choro do Xamã é sagrado!
(Porque, enquanto ele chora Manitu* lava sua alma).
- O sono é sagrado!
(Porque é o recreio do espírito, que sai do corpo para voar pelos céus do Grande Espírito).
- O trabalho é sagrado!
( Porque a natureza da vida é a atividade).
- Nenhum homem é capaz de ver a glória de Manitu*!
Para isso, é preciso aquietar a mente e fechar os olhos carnais, para "ver com o próprio espírito").
- A dança dos espíritos é com as estrelas!
(É dança de imortalidade e reverência à vida gerada por Manitu*).
- A vida é sagrada!
(Mas é preciso viver para aprender isso).
- Irmãos de jornada se amam e se respeitam!
(E nada pode separá-los do Amor de Manitu*).
-  Quando vêm a chuva, os Xamãs se emocionam e agradecem ao Grande Espírito!
(Porque eles sabem que a água é sagrada)
- Quando a morte do corpo chega, o Xamã sobe com o vento sutil e vai dançar com os espíritos, por entre as estrelas...
(Porque ele sabe que há algo mais... Um amor. Uma luz).
- Na imensidão universal só o poder de Manitu* é real!
(A sabedoria dos povos nativos sempre ensina isso).
- Povos pele-vermelha, pele-negra, pele-branca e pele-amarela...
(Todos são povos pele-Luz. Todos são povos pele-Manitu*! Por isso, os Xamãs sempre ensinam que todas as peles são sagradas).
- Manitu* só fala aos corações, e diz que há algo mais...
(E os espíritos e os Xamãs compreendem que é um Amor e uma Luz).



* Manitu - designação que os índios algonquinos, dos EUA, dão a uma força mágica não personificada, mas inerente a todas as coisas, pessoas, fenômenos naturais e atividades. Ou seja, o Grande Espírito.


               

ANTONIO BRASILEIRO - CONCERTO P/ FLAUTA E COPOS DE CRISTAL


          

CONCERTO P/ FLAUTA E COPOS DE CRISTAL

ANTONIO BRASILEIRO

Passarei minha vida olhando aquela montanha,
a esperar que ela se mova.
Não se moverá, tenho certeza,
mas passarei minha vida diante dela.

          

JOSÉ JORGE LETRIA - QUANDO EU FOR PEQUENO...




QUANDO EU FOR PEQUENO...

JOSÉ JORGE LETRIA

Quando eu for pequeno, mãe,
quero ouvir de novo a tua voz
na campânula de som dos meus dias
inquietos, apressados, fustigados pelo medo.
Subirás comigo as ruas íngremes
com a certeza dócil de que só o empedrado
e o cansaço da subida
me entregarão ao sossego do sono.

Quando eu for pequeno, mãe,
os teus olhos voltarão a ver
nem que seja o fio do destino
desenhado por uma estrela cadente
no cetim azul das tardes
sobre a baía dos veleiros imaginados.

Quando eu for pequeno, mãe,
nenhum de nós falará da morte,
a não ser para confirmarmos
que ela só vem quando a chamamos
e que os animais fazem um círculo
para sabermos de antemão que vai chegar.

Quando eu for pequeno, mãe,
trarei as papoilas e os búzios
para a tua mesa de tricotar encontros,
e então ficaremos debaixo de um alpendre
a ouvir uma banda a tocar
enquanto o pai ao longe nos acena,
lenço na mão com as iniciais bordadas, 
anunciando que vai voltar porque eu sou pequeno
e a orfandade até nos olhos deixa marcas.


MIA COUTO - O ESPELHO




O ESPELHO

MIA COUTO

Esse que em mim envelhece
assomou ao espelho
a tentar mostrar que sou eu.

Os outros de mim,
fingindo desconhecer a imagem,
deixaram-me a sós, perplexo,
com meu súbito reflexo.

A idade é isto: o peso da luz
com que nos vemos.

CARLOS PENA FILHO - SONETO DO DESMANTELO AZUL





SONETO DO DESMANTELO AZUL

CARLOS PENA FILHO

Então, pintei de azul os meus sapatos
por não poder de azul pintar as ruas,
depois, vesti meus gestos insensatos
e colori as minhas mãos e as tuas.

Para extinguir em nós o azul ausente
e aprisionar no azul as coisas gratas,
enfim, nós derramamos simplesmente
azul sobre os vestidos e as gravatas.

E afogados em nós, nem nos lembramos
que no excesso que havia em nosso espaço
pudesse haver de azul também cansaço.

E perdido de azul nos contemplamos
e vimos que entre nós nascia um sul
vertiginosamente azul. Azul.

WAGNER BORGES - ANJO


         

ANJO

WAGNER BORGES

Anjo amigo,
sei que tu estás aqui, pois o teu amor é imenso.
Sei que o teu movimento não é demarcado pelo horário humano, pois a todo momento tu estás ajudando alguém.
Sei que tu não és atraído pelas preces, mas sim pelo amor que mora no coração das pessoas.
Sei que o teu trabalho invisível não é para aumentar a devoção e o misticismo de ninguém, mas para aumentar a compaixão das pessoas.
Sei que tu viajas comigo nas notas musicais sutis e me inspiras a fazer o Bem.
Sei que não posso te escutar pelos ouvidos, mas sei te perceber na intuição do coração.
Sei que tu não és o "meu anjo", pois nada me pertence e a palavra "meu" é muito egoísta.
Sei que tu não tens asas, pois a gravidade terrestre não te afeta.
Sei que tu não é branco, negro, moreno, amarelo ou vermelho, pois o teu corpo espiritual é luz pura.
Sei que tu me conheces profundamente há muitas vidas e sabes do que eu preciso para crescer.
Por isso, não te peço nada e agradeço o teu carinho e proteção. Sei que a tua função real não é consolar, mas sim esclarecer e ampliar o potencial criativo das pessoas.
Não sei o teu nome (e nem me interessa), mas te reconheço pelo amor que sinto brotar na flor de lótus do meu coração.

Anjo amigo, 
palavras não te definem, mas há uma coisa que o meu coração quer te dizer:

"OBRIGADO, QUERIDO!"

        

EGITO GONÇALVES - CADERNOS DE POESIA




CADERNOS DE POESIA

EGITO GONÇALVES

Difícil é esperar
quando nada sabemos
nada haver a esperar.
O eco de uma lágrima não basta 
para dar vento a sementeira.

ANTONIO BRASILEIRO - O OFÍCIO




O OFÍCIO

ANTONIO BRASILEIRO

No fim dos tempos,
vou estar numa casinha de palha,
uns livros, um lápis,
papel almaço, a alma pura
e uns rabiscos pra ninguém ler,
          só
          me  confessar.

Ao deus dentro de mim, primeiramente.
E a quem não interessar possa.

ALBERTO DA CUNHA MELO - RELÓGIO DE PONTO




RELÓGIO DE PONTO

ALBERTO DA CUNHA MELO

Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim os jogos,
a poesia, todos os pássaros,
mais do que tudo: todo o amor.

De quando em quando faltaremos
a algum compromisso na Terra,
e atravessaremos os córregos
cheios de areia, após as chuvas.

Se alguma súbita alegria 
retardar o nosso regresso, 
um inesperado companheiro 
marcará nosso cartão.

Tudo que levamos a sério
torna-se amargo. Assim as faixas
da vitória, a própria vitória,
mais do que tudo: o próprio Céu.

De quando em quando faltaremos 
a algum compromisso na Terra,
e lavaremos as pupilas
cegas com o verniz das estrelas.

POESIAS PSICOGRAFADAS - ETERNA CRUZ




ETERNA CRUZ

CASEMIRO CUNHA
                 (Psicografia de Francisco Cândido Xavier)

Sobre as lutas da Terra, o Mestre se debruça
E exclama, olhos no céu, amargurado e aflito:
- "Há milênios, meu Pai, que choro no infinito,
Presa aos braços da cruz, minh'alma que soluça..."
Depois, fitando a Terra, eis que o Mestre inda exclama:
- "Amai-vos,  meus irmãos! Somente o amor ensina
A encontrar a verdade e a luz pura e divina;
Em verdade, é feliz somente aquele que ama!..."
Em vão, porém, Jesus grita ao mundo a verdade,
No mar da indiferença, a cega humanidade
Não procura a verdade e nem deseja a luz. 
Caim devora Abel no caminho escabroso!
Sempre a sede carnal de prazer e de gozo,
E o Mestre continua, em lágrimas, na cruz...

NEL CÂNDIDO - A GUERRA




A GUERRA

NEL CÂNDIDO

A guerra...
sempre estúpida é a guerra, 
de todas a mais bestial ação
que o homem realiza em sua história.
Em nome de falácias bem armadas, 
o homem digladia-se com o homem
e nunca há vencido ou vencedor,
pois na guerra todos têm as suas perdas...
e perde-se primeiro a humanidade.

ALPHONSUS DE GUIMARAENS - O CINAMOMO FLORESCE..


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O CINAMOMO FLORESCE...

ALPHONSUS DE GUIMARAENS

O cinamomo floresce
Em frente do teu postigo:
Cada flor murcha que desce
Morre de sonhar contigo.

E as folhas verdes que vejo
Caídas por sobre o solo,
Chamadas pelo teu beijo
Vão procurar o teu colo.

Ai! Senhora, se eu pudesse
Ser o cinamomo antigo
Que em flores roxas floresce
Em frente do teu postigo:

Verias talvez, ai! como
São tristes em noite calma
As flores do cinamomo
De que está cheia a minh'alma! 

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DAVID MOURÃO-FERREIRA - ILHA




ILHA

DAVID MOURÃO-FERREIRA

Deitada és uma ilha E raramente
surgem ilhas no mar tão alongadas
com tão prometedoras enseadas
um só bosque no meio florescente

promontórios a pique e de repente
na luz de duas gêmeas madrugadas
o fulgor das colinas acordadas
o pasmo da planície adolescente

Deitada és uma ilha Que percorro
descobrindo-lhe as zonas mais sombrias
Mas nem sabes se grito por socorro

ou se te mostro só que me inebrias
Amiga amor amante amada eu morro
da vida que me dás todos os dias


sábado, 25 de julho de 2015

SERRA DA BOA ESPERANÇA


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SERRA DA BOA ESPERANÇA

LAMARTINE BABO

Serra da Boa Esperança, esperança que encerra
No coração do Brasil um punhado de terra
No coração de quem vai, no coração de quem vem
Serra da Boa Esperança meu último bem

Parto levando saudades, saudades deixando
Murchas caídas na serra lá perto de Deus
Oh, minha serra, eis a hora do adeus vou-me embora
Deixo a luz do olhar no teu luar
Adeus

Levo na minha cantiga a imagem da serra
Sei que Jesus não castiga um poeta que erra
Nós, os poetas, erramos, porque rimamos também
Os nossos olhos nos olhos de alguém que não vem

Serra da Boa Esperança, não tenhas receio
Hei de guardar tua imagem com a graça de Deus
Oh, minha serra, eis a hora do adeus, vou-me embora
Deixo a luz do olhar no teu luar
Adeus


CANTA: NOITE ILUSTRADA




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FRANCISCO CARVALHO - PASTOR DE CABRAS




PASTOR DE CABRAS

FRANCISCO CARVALHO

Fui pastor de cabras
e de rios secos
rezei pelas vacas que morreram de sede
e os bezerros que ficaram
órfãos e foram alimentados com
o  leite dos pássaros.

Rezei pelas vértebras da paisagem
pelo sangue das pedras
pelas árvores e seus esqueletos
de faraós, pelas portas
fechadas das casas onde a lua
dialoga com os mortos.

Rezei em memória do vento
que à noite pastoreia
as lavouras soterradas de meu pai.

Rezei pelos seios da terra
pelo aniquilamento dos pássaros
pela volta da chuva
 e a diáspora das borboletas.
Rezei pelos náufragos do amor
do tempo e da eternidade.

Rezei pelos espantalhos de braços abertos
rezei pelos afogados daquele rio
que não seca nunca.

CARLOS DRUMOND DE ANDRADE - ELEGIA 1938


   

ELEGIA 1938

CARLOS DRUMOND DE ANDRADE

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.

Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas,
preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção.
À noite, se neblina, abrem guardas chuvas de bronze
ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas.

Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras.

Caminhas entre mortos e com eles conversas
sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito.
A literatura estragou tuas melhores horas de amor.
Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear.

Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota
e adiar para outro século a felicidade coletiva.
Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição 
porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.

  

OLEGÁRIO MARIANO - ALMA EM DESESPERO




ALMA EM DESESPERO

OLEGÁRIO MARIANO

Como viver assim de alma despedaçada,
Quando lá fora há sol e há festa e há primavera?
Meu amor deu-me tudo e hoje não tenho nada,
Ele próprio tirou tudo quanto me dera.

Se a existência passei chorando à sua espera
Ele veio e me trouxe às mãos, numa braçada
De rosas, a mulher que era sonho e quimera,
E ilusão e perfume e estrela e madrugada.

E agora que fazer nesta vida sem ela?
Debater-me de desatino em desatino,
Minh'alma transmudar numa folha amarela

E atirá-la no espaço, aloucada e erradia
Para vê-la seguir o seu próprio destino
No doido rodopiar da asa da ventania...

ALPHONSUS DE GUIMARAENS - ENCONTREI-TE. ERA O MÊS...


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ENCONTREI-TE. ERA O MÊS...

ALPHONSUS DE GUIMARAENS

Encontrei-te. Era o mês... Que importa o mês? Agosto,
Setembro, outubro, maio, abril, janeiro ou março,
Brilhasse o luar que importa?ou fosse o sol já posto,
No teu olhar todo o meu sonho andava esparso.

Que saudades de amor na aurora do teu rosto!
Que horizonte de fé, no olhar tranquilo e garço!
Nunca mais me lembrei se era no mês de agosto,
Setembro, outubro, abril, maio, janeiro ou março.

Encontrei-te. Depois... depois tudo se some
Desfaz-se o teu olhar em nuvens de ouro e poeira.
Era o dia... Que importa o dia, um simples nome?

Ou sábado sem luz, domingo sem conforto,
Segunda, terça ou quarta, ou quinta ou sexta-feira,
Brilhasse o sol, que importa? ou fosse o luar já morto?

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ANTONIO BRASILEIRO - A EMENDA & O SONETO




A EMENDA & O SONETO

ANTONIO BRASILEIRO

1.  O soneto

Em meio a temporais, saibamos ser
a haste pequenina que se verga.
Pois uma coisa é certa: tudo acaba.

E o céu ficará limpo como era.


2.  A emenda

Em meio a temporais, saibamos ser
a haste pequenina que se verga.
Pois uma coisa é certa: tudo acaba.

Não só acaba como não acaba.

CASTRO REIS - DÁDIVA DIVINA


 

DÁDIVA DIVINA

CASTRO REIS

Como é grande o valor da Natureza
E tudo quanto a Mão de Deus criou...
O mais pequeno ser, nos dá certeza
Da grandeza divina que o moldou!...

Obra de maravilha e de Beleza,
Grande foi o Amor que a inspirou...
Toda da Obra de Deus é chama acesa
Que a Natureza Mãe, eternizou!...

E dessa Obra-prima, de esplendores:
Nasceram rios, árvores e flores,
Aves, astros e coisas divinais!...

Mas de tanta grandeza concebida
Com que deus quis dar vida à própria Vida:
- Ter nascido Poeta, é muito mais!

  

WAGNER BORGES - FLORES


       

FLORES

       Poema recebido espiritualmente por Wagner Borges -
       CIA DO AMOR (A TURMA DOS POETAS EM FLOR)


Ah, as flores como são belas!
São pequenos chacras da natureza,
Botões em cores, criaturinhas cheias de beleza.
Alguém magoado pode dizer:
- Como se pode falar de flores num planeta tão cheio de dores?

Ao que nós, poetas inveterados, retrucamos:
- Como é que se pode falar de dores num planeta tão cheio de flores?
E isso sem falar nos amores, que apartam as dores.
Pois é, meus amigos, falamos de flores com vocês, esperando que vocês sejam
Bonitas flores espirituais no jardim da vida.
Que Deus lhes abençoe e os torne poetas na próxima vida.

       

segunda-feira, 6 de julho de 2015

JOSÉ RÉGIO - SABEDORIA


          

SABEDORIA

JOSÉ RÉGIO

Desde que tudo me cansa,
Comecei eu a viver.
Comecei a viver sem esperança...
E venha a morte quando
Deus quiser.

Dantes, ou muito ou pouco,
Sempre esperava:
Às vezes, tanto, que o meu sonho louco
Voava das estrelas à mais rara;
Outras, tão pouco,
Que ninguém mais com tal se conformara.

Hoje, é que nada espero.
Para quê, esperar?
Sei que já nada é meu senão se o não tiver;
Se quero, é só enquanto apenas quero;
Só de longe, e secreto, é que inda posso amar...
E venha a morte quando Deus quiser.

Mas, com isto, que têm as estrelas?
Continuam brilhando, altas e belas.

               

DANTE MILANO - GLÓRIA MORTA




GLÓRIA MORTA

DANTE MILANO

Tanto rumor de falsa glória,
Só o silêncio é musical,
Só o silêncio,
A grave solidão individual,
O exílio em si mesmo,
O sonho que não está em parte alguma.
De tão lúcido, sinto-me irreal.

MIA COUTO - DESTINO




DESTINO

MIA COUTO

à ternura pouca
me vou acostumando
enquanto me adio
servente de danos e enganos

vou perdendo morada
na súbita lentidão
de um destino
que me vai sendo escasso

conheço a minha morte
seu lugar esquivo
seu acontecer disperso

agora 
que mais 
me poderei vencer?

AIDENOR AIRES - CONTEMPORIZAR




CONTEMPORIZAR

AIDENOR AIRES

Não sei por que 
não me acostumo
ao morrer cotidiano das coisas.

Vivo num tempo de morte
 e as caras me assombram 
como túmulos.

O poeta nasceu para
as grandes resignações
ou para os grandes desesperos.

Não há omissão na poesia.
Há de haver sempre tempo
para a resignação
e tempo para a revolta.

Há os que sonham
jardins sobre as cinzas, 
há os que geram cinzas 
sobre as flores...
Meu tempo é só de cinzas,

Um animal enorme 
devorou as flores.