quarta-feira, 20 de agosto de 2014

DONIZETE GALVÃO - OS NOMES


     

OS NOMES
              (A meu pai)
                       
DONIZETE GALVÃO

Quisera, agora,
repartir com você
todos os trabalhos
e os dias.
          Sei - e como dói
          só o saber nesta hora - 
os nomes que me confundiam
quando a cabeça
estava mergulhada em livros.
          O alicate
          A torquês
          A chave de fenda
          A lima
          A máquina
          para esticar
          arame farpado
Quisera retirar do paiol
todas as ferramentas.
          O alfanje
          A enxada
          A foice
          A cavadeira
          O enxadão
          O serrote
          O cepilho
Quisera ser de novo
o filho que engraxaria
os seus sapatos
e os deixaria
na escada do alpendre
sob o sol da manhã.
Escovados,
lustrosos
para a missa de domingo.

QUALQUER JEITO - IT SHOULD HAVE BEEN EASY


     


QUALQUER JEITO

MÚSICA ORIGINAL:  IT SHOULD HAVE BEEN EASY 
COMPOSITOR: BOB McDILL
VERSÃO DE: ROBERTO CARLOS E ERASMO CARLOS
CANTA: KÁTIA


Todo dia, ao amanhecer,
quanto mais tento te esquecer,
mais me lembro,
não tem jeito.

Desde quando eu te conheci,
nunca mais te tirei daqui,
do meu peito.
De que jeito?

Não está sendo fácil,
não está sendo fácil.
Não está sendo fácil viver assim.
Você está grudado em mim.

Quando tento me divertir,
nos lugares que eu quero ir,
você sempre está.
De algum jeito está.

Eu te encontro em qualquer canção,
você vive em meu coração
e eu aceito. 
Não tem jeito.

Não está sendo fácil, 
não está sendo fácil.
Não está sendo fácil viver assim.
Você está grudado em mim.

Se você ainda quiser voltar,
não demore, eu não sei ficar
desse jeito. 
Não tem jeito.

Não precisa nem me avisar,
basta, apenas, você chegar
do seu jeito.
Qualquer jeito.

Não está sendo fácil,
não está sendo fácil.
Não está sendo fácil viver assim.
Você está grudado em mim.





IT SHOULD HAVE BEEN EASY

COMPOSITOR: BOB McDILL
CANTA: ANNE MURRAY


Every morning when I get up

I see your face in my coffee cup
Looking back at me looking back at me

Another morning another day

And still I'm feelling the same old way
I'm still missing you missing you

It should have been easy
It should have been easy
It should have been oh so easy to do
But I'm still getting over you

I keep seeing old friends of mine

They all smile and they say in time
I'll get over you I'll be good as new

I guess somehow some day I will

I'll forget you I know but still
It'll take some time it'll take some time

It should have been easy
It should have been easy
It should have been oh so easy  to do
But I'm still getting over you






     

MÁRCIO CASTRO DAS MERCÊS - AMOR




AMOR

MÁRCIO CASTRO DAS MERCÊS

Leve...
Qual carícias do vento
Doce...
Qual cantiga do tempo
Na harmonia universal

Linda...
Como a gota de orvalho
Debruçada na pétala
Lívida...
E rica de suaves perfumes...

Leve...
Doce...
Essa flor que me brota do peito
Transcendente...
Iluminada...

E Viva...

FÁTIMA IRENE PINTO - UMA LÁGRIMA




UMA LÁGRIMA

FÁTIMA IRENE PINTO

Uma lágrima
Pelo beijo que eu não te dei
Pelo afago que eu sufoquei
Pelos sonhos que malbaratei
Pelo encontro que em vão sonhei
Pelo beijo que não me roubaste
Pelo afago que me recusaste
Pelo encontro que tu evitaste
Pelo sonho que tu não sonhaste
Uma lágrima
Pela mão que não entrelacei
Pelo olhar que jamais cruzei
Pela valsa que eu não dance
Pela música que não entoei
Pela mão que não apertaste
Pelo olhar que tu desviaste
Pela dança que tu não dançaste
Pela canção que não escutaste
Uma lágrima
Pela espera da festa... sem festa
Pela espera do gozo... sem gozo
Pela espera da vida... sem vida
Pelo ápice do fim... sem fim
Uma lágrima
Sem festa... pela fresta que tu me fechaste
Sem gozo... pois no meio do caminho declinaste
Sem vida... foste minha luz e te apagaste
Sem fim... começaste a amar e não terminaste.

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

RENATA PALLOTTINI - O GRITO




O GRITO

RENATA PALLOTTINI

se ao menos esta dor servisse
se ela batesse nas paredes
abrisse portas
falasse
se ela cantasse e despenteasse os cabelos

se ao menos esta dor se visse
se ela saltasse fora da garganta como um grito
caísse da janela fizesse barulho
morresse

se a dor fosse um pedaço de pão duro
que a gente pudesse engolir com força
depois cuspir a saliva fora
sujar a rua os carros o espaço o outro
esse outro escuro que passa indiferente
e que não sofre tem o direito de não sofrer

se a dor fosse só a carne do dedo
que se esfrega na parede de pedra
para doer doer doer visível
doer penalizante
doer com lágrimas

se ao menos esta dor sangrasse

ANTONIO BRASILEIRO - CONTEMPLAÇÃO DA NUVEM


      

CONTEMPLAÇÃO DA NUVEM 
                                  ( Para Luís Alberto)

ANTONIO BRASILEIRO

A vida é a contemplação daquela nuvem.
E o mundo
uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem
                                        passando.

E uma nuvem passando
ensina-nos mais coisas que cem pássaros
mil livros                 um milhão de homens.

A vida é a contemplação daquela nuvem.
E o mundo
uma forma de passar, que inventamos
para não ver que o mundo não é o mundo,
mas uma nuvem.
                                        Passando.

      

HENRIQUETA LISBOA - OS LÍRIOS


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OS LÍRIOS

HENRIQUETA LISBOA

Certa madrugada fria
irei de cabelos soltos
ver como crescem os lírios.

Quero saber como crescem
simples e belos - perfeitos! -
ao abandono dos campos.

Antes que o sol apareça
neblina rompe neblina
com vestes brancas, irei.

Irei no maior sigilo
para que ninguém perceba
contendo a respiração.

Sobre a terra muito fria
dobrando meus frios joelhos
farei perguntas à terra.

Depois de ouvir-lhe o segredo
deitada por entre os lírios
adormecerei tranquila.

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NEL CÂNDIDO - BILHETE A TERESA




BILHETE A TERESA
                          (a Teresa Jardine)
      
NEL CÂNDIDO

Invejo a tua alma feminina
revelada em poemas de outras tardes,
adeliapradando a existência tão mortal.
Não há porque correr o mundo - 
um Ulisses de grandes feitos vistos
por todos ao redor, para atingir 
o que sempre destro de si esteve.
Tua alma de Penélope aprisionada
num lar, do mundo afastada, 
tecendo as teias não outras que da vida,
ancorou a nau da própria Vida
não na ilha circelina do engano -
mas num porto seguro da verdade.
Lá não houve fortalezas a tomar,
apenas uma rosa que de botão desabrochou
e qual uma revelação divina,
simplesmente teu rosto iluminou.


CARLOS PENA FILHO - A MESMA ROSA AMARELA


    

A MESMA ROSA AMARELA

CARLOS PENA FILHO

Você tem quase tudo dela,
o mesmo perfume, a mesma cor, 
a mesma rosa amarela,
só não tem o meu amor.

Mas, nestes dias de carnaval,
para mim, você vai ser ela.
O mesmo perfume, a mesma cor,
a mesma rosa amarela.

Mas não sei o que será
quando chegar a lembrança dela
e, de você, apenas restar
a mesma rosa amarela,
a mesma rosa amarela.

   

AMÉLIA VEIGA - CANSAÇO




CANSAÇO

AMÉLIA VEIGA

naufraguei
encalhada nos cansaços
que levei para a viagem...

(que rota escolherá
quem conhece a paisagem?)
perdi remos, perdi braços
e os olhos de navegar
e sinto grudados os passos
ao lodo do fundo do mar.

nas manhãs de azul deslumbradas
sobrevoam-ma gaivotas assustadas...
mas enrolo-me no meu mistério frio e baço

e fico-me a naufragar...

ALBERTO DA CUNHA MELO - CASA VAZIA




CASA VAZIA

ALBERTO DA CUNHA MELO

Poema nenhum, nunca mais,
será um acontecimento:
escrevemos cada vez mais
para um mundo cada vez menos,

para esse público dos ermos
composto apenas de nós mesmos,

uns joões batistas a pregar
para as dobras de suas túnicas
seu deserto particular,

ou cães latindo, noite e dia, 
dentro de uma casa vazia.