quarta-feira, 7 de outubro de 2015

OLEGÁRIO MARIANO - O CASTIGO DO AMOR




 O CASTIGO DO AMOR

OLEGÁRIO MARIANO

Seja o que Deus quiser! Levo comigo,
Como um fardo nos ombros, este peso
Da rude maldição do teu desprezo
Que sobre mim caiu como um castigo.

Entanto, a ti eternamente preso,
Se na renúncia encontro o último abrigo,
Em teu louvor, meu coração de amigo
Estará sempre vivo e sempre aceso.

A culpa de te amar não foi pequena.
Bebi a tua luz como quem bebe,
Tendo a certeza de que se envenena.

Nem Deus agora absolve o meu pecado!
- Pela primeira vez alguém recebe
O castigo do Amor, por ter amado.

EI, MEU PAI


   

EI, MEU PAI

DEMÉTRIUS

Ei, meu pai
Eu era 'inda menino e você me chamou.
Mostrou-me os caminhos e me ensinou
Aquele que julgava ser melhor, meu pai.
E eu segui.

Ei, meu pai
Você só não falou das coisas tristes, pai.
Você não me falou das amarguras, não
Por todas que eu teria que passar, meu pai.

Olhe pra mim e vê, meu pai
Você não preveniu que nos caminhos eu
Teria que abraçar a companheira inseparável
Do meu coração, a solidão

Ah, meu pai
Perdoe-me por eu estar falando assim
Às vezes eu esqueço e penso só em mim
E eu sei nossos caminhos são iguais


CANTA: DEMÉTRIUS




   
 

J. G. DE ARAÚJO JORGE - "ESPERA"




"ESPERA"

J. G. DE ARAÚJO JORGE

Se tivesses mandado uma palavra: - "espera!"
Sem mais nada, nem mesmo explicar até quando,
eu teria ficado até hoje esperando...
- era a eterna ilusão de que fosses sincera...

Que importa a vida, o Sol, a primavera,
se eras a vida, o sol, a flor desabrochando?
Se tivesses mandado uma palavra: - "espera!"
eu teria ficado até hoje esperando...

Não mandaste, tu nada disseste, eu segui
sem saber que fazer da vida que era tua
procurando com o mundo esquecer-me de ti...

E afinal o destino, irônico e mordaz,
ontem, fez-me cruzar com o teu olhar na rua,
ouvir dizer-te: -"espera!..." E ser tarde demais...

CASIMIRO DE BRITO - UM POUCO MAIS




UM POUCO MAIS

CASIMIRO DE BRITO

Esta manhã não lavei os olhos - 
pensei em ti.

Se o teu ouvido se fechou à minha boca
poderei escrever ainda poemas de amor?
A arte de amar não me serve para nada.

Um fogo em luz transformado.
Subitamente, a sombra.

Há dias em que morro de amor.
Nos outros, de tão desamado, 
morro um pouco mais.

OLEGÁRIO MARIANO - PARA QUE TANTO LUAR?




PARA QUE TANTO LUAR?

OLEGÁRIO MARIANO

Para que tanto luar por esse espaço?
Basta-me aquela estrela pequenina
Que acena do alto a sua mão franzina 
Para abençoar-me pelo bem que faço.

A pequena candeia da colina
Que os passos me acompanha, passo a passo,
E, apiedada de mim, da minha ruína,
Abre caminho para o meu cansaço...

Para que tanto luar de mão beijada
A quem com muito pouco se consola?
Nada merece quem não teve nada.

Tudo falhou nessa jornada imensa:
- Dessa a quem tudo dei, não tenho a esmola
De uma simples saudade em recompensa.

AFONSO CELSO - PORTO CELESTE




PORTO CELESTE

AFONSO CELSO

Andei em longas excursões distantes:
Vi palácios, sacrários, monumentos,
Focos da indústria, artísticos portentos...
Praças soberbas, capitais gigantes.

Mas lia, em toda a parte, nos semblantes, 
Dores... lutas... idênticos tormentos...
- Onde a pátria dos risos?!... Desalentos
Colhi apenas, mais cruéis que dantes.

Achei, enfim, num pequenino porto,
Crenças, consolações, calma, conforto,
Tudo que anima, enleva e maravilha:

Ninho de encantos que a inocência habita
Promontório do céu, plaga bendita.

É junto ao berço teu, ó minha filha.

EMÍLIO DE MENEZES - GERMINAL




GERMINAL

EMÍLIO DE MENEZES

Passou. A vida é assim: é o temporal que chega,
Ruge, esbraveja e passa, ecoando, serra a serra,
No furioso raivar da indômita refrega
Que as montanhas abala e os troncos desenterra.

Mas o pranto, afinal, que essa cólera encerra
Tomba: é a chuva que cai e que a planície rega;
E a cada gota, ali, cada gérmen se apega
Fecundando,  a minar, toda a alagada terra.

Também o coração do convulsivo aperto
Da dor e das paixões, das angústias supremas,
Sente-se livre, após, a um  grande choro aberto.

Alma! já que não é mister que ansiosa gemas,
Alma! fecunda enfim nas lágrimas que verto,
Possas tu germinar e florescer em Poemas!

AGOSTINHO DA SILVA - ALGUM DIA


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ALGUM DIA 

AGOSTINHO DA SILVA

Algum dia um novo Papa
anunciará altivo
que Deus é raiz quadrada
de um quantum negativo

e o Deus que tanto procuro
em que atingido me afundo
é aquele ser-não-ser
do que acontece no mundo

da matéria mais que densa
é que é divertido ser
ali se nada acontece
tudo pode acontecer

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