domingo, 28 de abril de 2013

NEL CÂNDIDO - NOITES INSONES


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NOITES INSONES

NEL CÂNDIDO

Noites insones
em que o corpo cansado e pesado
dormir não consegue
e nem levantar-se;
em que os olhos ardentes
não podem fechar-se
e fixam-se no teto
sem nada contemplar.
Noites insones
nas quais não há descanso
e nem se trabalha.
Noites insones,
noites inúteis.
Noites insones...
minha existência.

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TEIXEIRA DE PASCOAES - ABISMOS


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ABISMOS

TEIXEIRA DE PASCOAES

Por abismos sem fim, vou caminhando...
E o mais profundo abismo é o alto céu.
E que vertigens sempre sinto, quando
Me inclino sobre a luz que amanheceu!

É um abismo a oração que vou rezando
É um mar sem fundo a flor que renasceu...
Nas palavras que vou pronunciando,
Cada idéia é tão alta como o céu!

Sobre abismos, caminho dia a dia...
Das suas negras trevas se irradia
Uma outra escuridão ainda maior...

Que a mim me diz, nas horas em que cismo,
Que é um abismo junto d'outro abismo,
Meu coração ao pé do seu amor!...

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ZEFERINO BRASIL - ZELOS




ZELOS

ZEFERINO BRAZIL

De leve, beijo as suas mãos pequenas,
Alvas, de neve, e, logo, um doce, um breve
Fino rubor lhe tinge a face, apenas
De leve beijo as suas mãos de neve.

Ela vive entre lírios e açucenas,
E o vento a beija, e, como o vento, deve
Ser o meu beijo em suas mãos serenas,
- Tão leve o beijo, como o vento é leve...

Que essa divina flor, que é tão suave,
Ama o que é leve, como um leve adejo
De vento ou como um garganteio de ave.

E já me basta, para meu tormento, 
Saber que o vento a beija, e que o meu beijo
Nunca será tão leve como o vento...

sábado, 27 de abril de 2013

JOAQUIM PESSOA - AMEI DEMAIS


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AMEI DEMAIS

JOAQUIM PESSOA

Madruguei demais. Fumei demais. Foram demais
todas as coisas que na vida eu emprenhei.
Vejo-as agora grávidas. Redondas. Coisas tais, 
como as tais coisas nas quais nunca pensei.

Demais foram as sombras. Mais e mais.
Cada vez mais ardentes as sombras que tirei
do imenso mar de sol, sem praia ou cais,
de onde parti sem saber por que embarquei.

Amei demais. Sempre demais. E o que dei
está espalhado pelos sítios onde vais
e pelos anos longos, longos, que passei

à procura de ti. De mim. De ninguém mais.
E os milhares de versos que rasguei
antes de ti eram perfeitos. Mas banais.

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BELMIRO BRAGA - RETROSPECTO




RETROSPECTO

BELMIRO BRAGA

Cinquenta anos já fiz, e não fiz nada
nestes meus longos cinquenta anos, feitos
de pesares, de angústias, de despeitos, 
a boca sorridente e a alma enlutada.

A estrada do Dever foi minha estrada,
da Virtude segui os sãos preceitos,
e nem honras, nem glórias, nem proveitos
encontro ao fim da aspérrima jornada...

Vivi sonhando com manhãs radiosas,
com bosques verdes, pássaros e ninhos,
e deu-me a vida noites tormentosas,

e deu-me campos mortos e maninhos...
Cinquenta anos vivi semeando rosas,
cinquenta anos vivi colhendo espinhos...

ADALGISA NERY - A UM HOMEM




A UM HOMEM

ADALGISA NERY

Quando numa rocha porosa
Cansado te encostares
E dela vires surgir a umidade e depois a gota,
Pensa, amado meu, com carinho,
Que aí está a minha boca.

Se teus olhos ficarem nas praias
E vires o mar ensalivando a areia
Com alegria pensa, amado meu, 
Num corpo feliz
Porque é só teu.

Se descansares sob uma árvore frondosa

E além da sombra ela te envolver de ar resinoso
Lembra-te com entorpecência, amado meu,
Da delícia do meu ventre amoroso.

Quando olhares o céu
E vires a andorinha tonta na amplidão
Pensa, amado meu, que assim sou eu
Perdida na infindável solidão.

A noite quando as trevas chegarem
E vires do firmamento
Uma estrela cair e se afundar
É sinal, amado meu,
Que o teu amor vai me abandonar.

Na morte, quando perderes o último sentido
E a tua própria voz
Em forma de pensamento
Te subir ao ouvido
Deixa escorrer a derradeira lágrima pelo teu rosto
Nascida do extremo alento do coração
E pensa então, amado meu,
Que ainda é um suave carinho da minha mão!

ADELMAR TAVARES - AS INGÊNUAS, DELICIOSAS MENTIRAS




AS INGÊNUAS, DELICIOSAS MENTIRAS

ADELMAR TAVARES

Que bem fazem à gente certas mentiras
Essas pequenas, ingênuas deliciosas mentiras...
Essas mentirinhas bebês,
redondinhas, rosadas e frescas...
A dos médicos para seus enfermos desenganados:
- "Mas está excelente! Vai sarar!"
A dos amigos para os nossos poemas:
- "Cortei na revista... Guardei-o comigo."
E sobre todas, as da criatura amada
que justifica, no reclamo da saudade:
- "Sonhei contigo a noite inteira... e estou intranquila... Vem!..."
Meu Deus do céu, que imenso bem!...
A gente tem vontade de pegar essas mentirinhas como aos bebês,
redondinhas, rosadas e frescas,
e atirá-las para o alto, pelos braços,
às momices e aos beijos...
- "De quem é essa mentirinha mais bonita do mundo?
- "De quem é essa mentirinha tão querida, gente?"
E depois, num abraço bem apertado, numa efusão,
enterrá-las, como um tesouro de felicidade,
no coração.

sexta-feira, 26 de abril de 2013

BELMIRO BRAGA - A UM PINTASSILGO


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A UM PINTASSILGO

BELMIRO BRAGA

Por que vens tu cantar, ó passarinho,
por entre as folhas úmidas de orvalho,
no flóreo jasmineiro meu vizinho
E mesmo em frente à mesa onde trabalho?

Por que não vais vigiar teu fofo ninho
(Não te zangues comigo, eu não te ralho)
a baloiçar à margem do caminho,
qual rosa escura num recurvo galho?

Tu tens que cuidar; por isso, voa
e deixa-me sozinho... Esse teu canto, 
embora sendo alegre, me magoa...

Não te demores, vai! Deixa-me agora,
que o teu gorjeio me faz mal, porquanto
nunca se canta ao lado de quem chora...

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FAGUNDES VARELA - VISÕES DA NOITE


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VISÕES DA NOITE

FAGUNDES VARELA


Passai, tristes fantasmas! O que é feito

Das mulheres que amei, gentis e puras?
Umas devoram negras amarguras,
Repousam outras em marmóreo leito!

Outras no encalço de fatal proveito
Buscam à noite as saturnais escuras,
Onde empenhando as murchas formosuras
Ao demônio do ouro rendem preito!

Todas sem mais amor! sem mais paixões!
Mais uma fibra trêmula e sentida!
Mais um leve calor nos corações!

Pálidas sombras de ilusão perdida,
Minh'alma está deserta de emoções,
Passai, passai, não me poupeis a vida!

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terça-feira, 23 de abril de 2013

AMADEU AMARAL - SONHO DE AMOR




SONHO DE AMOR

AMADEU AMARAL

Tudo isto há de passar, de certo, muito em breve...
Branca névoa sutil, ir-se-á quando o sol nasça;
branco sonho de amor, passará, como passa
pelas ondas em fúria uma garça de neve.

Passará dentro em pouco, imitando a fumaça
que se evola e se esvai nas curvas que descreve.
Fumaça de ilusão, força é que o vento a leve, 
força é que o vento a leve, e disperse, e desfaça.

Que importa! Uma ilusão que nos alegra e afaga
há de ser sempre assim, no mar bravo da vida,
como a espuma que fulge e morre sobre a vaga.

Esta me há de fugir, esta que hoje me inflama!
E antes vê-la fugir como uma luz perdida
que possuí-la na mão como um pouco de lama...

quarta-feira, 10 de abril de 2013

DJALMA ANDRADE - ATO DE CARIDADE




ATO DE CARIDADE

DJALMA  ANDRADE

Que eu faça o bem e de tal modo o faça,
que ninguém saiba o quanto me custou.
- Mãe, espero de Ti mais esta graça:
que eu seja bom, sem parecer que o sou.

Que o pouco que me dês, me satisfaça
e, se do pouco mesmo, algum sobrou,
que eu leve esta migalha onde a desgraça
inesperadamente penetrou.

Que a minha mesa, a mais, tenha um talher,
que será, minha Mãe, Senhora Nossa,
para o pobre faminto que vier.

Que eu transponha tropeços e embaraços:
- que eu não coma, sozinho, o pão que possa
ser partido, por mim, em dois pedaços!

POESIAS PSICOGRAFADAS - SONETO


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SONETO

RAUL DE LEONI
                   (Psicografia de Francisco Cândido Xavier)

Não te entregues na Terra à indiferença.
Cheio de amor e fé, trabalha e espera;
Nos domínios do mal, nada há que vença
A alma boa, a alma pura, a alma sincera.

No pensamento nobre persevera
De servir, sempre alheio à recompensa;
O desejo do Bem dilata a esfera
Das luzes sacratíssimas da Crença.

Vive nas rutilantes almenaras
Dos castelos do Amor de essências raras,
Aspirando os olores da Pureza!...

Terás na Terra, então, a vida calma...
E a morte não será, para a tua alma,
Jamais medonha e trágica surpresa.

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ADELINO FONTOURA - CELESTE


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CELESTE

ADELINO FONTOURA

É tão divina a angélica aparência,
e a graça que ilumina o rosto dela,
que eu concebera o tipo da inocência
nessa criança imaculada e bela.

Peregrina no céu, pálida estrela
exilada da etérea transparência, 
sua origem não pode ser aquela 
da nossa  triste e mísera existência.

Tem a celeste e ingênua formosura
e a luminosa auréola sacrossanta
de uma visão do céu, cândida e pura.

E, quando os olhos para o céu levanta, 
inundados de mística doçura,
nem parece mulher - parece santa.

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GEIR CAMPOS - ALBA


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ALBA

GEIR CAMPOS

Não faz mal que amanheça devagar,
as flores não têm pressa nem os frutos:
sabem que a vagareza dos minutos
adoça mais o outono por chegar.
Portanto não faz mal que devagar
 o dia vença a noite em seus redutos
do leste - o que nos cabe é ter enxutos
os olhos e a intenção de madrugar.

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JUDAS ISGOROGOTA - FILHO PRÓDIGO



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FILHO PRÓDIGO

JUDAS ISGOROGOTA
                      ( A Cleómenes Campos)

E os meus pés sangrarão... Quanto é humilhante a volta
Quando se volta assim, semi-deus abatido...
Eu próprio que direi? - "Quanto esforço perdido..."
E os mais? Os mais dirão que o meu caso os revolta...

E os amigos? Nem sei... Hão de soltar a escolta
Dos sarcasmos atrás do homem desprotegido...
E as mulheres? Dirão em tom compadecido
Essas cousas banais que toda a gente solta...

E os meus? Que hão de dizer vendo este trapo humano?
Minhas irmãs dirão: - "Pobrezinho do mano..."
Minha mãe chorará de alegria, coitada...

E ela, a que eu elegi para a minha ventura;
Ela, que à comoção menor se transfigura,
Ela, o que há de dizer? Ela não dirá nada...

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ALBANO MARTINS - CEDO OU TARDE


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CEDO OU TARDE

ALBANO MARTINS

Devias saber
que é sempre tarde
que se nasce, que é
sempre cedo 
que se morre. E devias
saber também
que a nenhuma árvore
é lícito escolher
o ramo onde as aves
fazem ninho e as flores
procriam.

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ADELMAR TAVARES - VELA BRANCA




VELA BRANCA

ADELMAR TAVARES

Vela branca, vela branca,
que vais lá longe... no mar...
quem me dera, vela branca,
que me quisesses levar
para tão longe... tão longe,
que eu não pudesse voltar...
Mas uma vez, vela branca, 
que não me queres levar,
para tão longe... tão longe...
que eu não pudesse voltar,
leva-me a saudade dela
para o mais fundo do mar.

segunda-feira, 8 de abril de 2013

NEL CÂNDIDO - AH, QUIXOTE SONHADOR


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AH, QUIXOTE SONHADOR 

NEL CÂNDIDO

Ah, Quixote sonhador, 
louco e insano:
como te invejo!

As loucuras de tua perturbada mente
te levaram pelo mundo, 
a travar lutas reais
mesmo com imaginários seres.

Tua memória permanece para sempre.

Eu, porém, de mente enturbe,
quedo-me, inútil, em minha sala, 
sonhando a vida que não se estende
além de ociosos devaneios.

Morro-me, esquecido eternamente.

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ÁLVARO VIANA - IN EXCELSIS



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IN EXCELSIS

ÁLVARO VIANA

Num céu de porcelana e de cobalto,
sobre arcadas de luz e de esmeralda,
eu quero ver, eternamente ao alto,
aquela cujo amor meu peito escalda.

E para que não mais na terra balda
do Fogo Eterno a veja em sobressalto,
todo o meu ser se estria e se desfralda
à procura do sonho em que me exalto.

- Por escadas de prata e de turquesa
hás de calcar sorrindo essa riqueza
de berilo e rubis... ( Assim tu és!)

E no veludo da tua voz, de rastros,
eu subirei sonhando além dos astros,
sem nunca ter saído de teus pés.

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JOÃO DE DEUS - VIDA


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A VIDA

JOÃO DE DEUS

Foi-se-me pouco a pouco amortecendo
a luz que nesta vida me guiava,
olhos fitos na qual até contava
ir os degraus do túmulo descendo.

Em se ela anuviando, em a não vendo,
já se me a luz de tudo anuviava; 
despontava ela apenas, despontava
logo em minha alma a luz que ia perdendo.

Alma gêmea da minha, ingênua e pura
como os anjos do céu (se o não sonharam...)
quis mostrar-me que o bem, bem pouco dura!

Não sei se me voou, se m'a levaram;
nem saiba eu nunca a minha desventura
contar aos que ainda em vida não choraram...

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domingo, 7 de abril de 2013

VICENTE DE CARVALHO - DESLUMBRAMENTO


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DESLUMBRAMENTO

VICENTE DE CARVALHO

Quanto durou essa ilusão perdida,
Esse amor, esse encanto, essa alvorada?
Dias ou meses, não o sei, querida:
Foi um clarão que me passou na vida,
Sei que fulgiu, sei que passou, mais nada.

Durante o arroubo da paixão, quem há de
Notar o tempo que a fugir se esgueira?
No amor, ventura ou infelicidade,
Uma esperança dura a vida inteira,
Um desengano é toda a eternidade.

No absorto enlevo desse amor tão raro,
No êxtase dessa adoração radiosa,
Passava o tempo? Nunca pus reparo:
A madrugada era um botão de rosa
Desabrochando em teu sorriso claro;

Havia noites? Ainda agora penso
No olhar de uns olhos negros - céu imenso
De estio em noite sonhadora e calma,
Céu luminoso, a palpitar, suspenso
Sobre essa terra em flor que era a minh'alma;

Fosse inverno ou verão, ou noite, ou dia,
A natureza inteira, humilde escrava
Dos arroubos da minha fantasia,
Em cada voz - o teu louvor cantava,
Do teu fulgor - toda resplandecia.

Sim, esse sonho esplêndido - vivi-o!
Quando? E quanto durou? Bem pouco importa...
A minha vida, agora, é como um rio
Que leva à tona, sob um céu sombrio,
A murcha flor de uma esperança morta.

"Ah, quem assim me fala ama-me ainda",
Dirás contigo. Em alta voz o nego:
Que resta em nós dessa existência finda?
Tu, sempre encantadora e sempre linda,
És a mesma, talvez... Mas eu estou cego.

Amei-te, já não te amo. Não, de certo.
Tu foste uma miragem deslumbrante
Que em meu sonho feliz sonhei tão perto,
E desfez-se, deixando-me diante
Da tristeza vazia do deserto.

O amor de que te amei tão loucamente
Era como um olhar que o céu alcança:
Para ti, alto céu resplandecente, 
Todo se erguia, no êxtase de um crente,
Feito de adoração - e de esperança.

E hoje, que para toda a eternidade,
Eu despertei do sonho de um momento,
Hoje, na sombra, penso com saudade
Que o teu encanto era uma claridade
E o meu amor foi um deslumbramento.

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ANTONIO BRASILEIRO - QUANDO VIEREM OS TOUROS DESALMADOS




QUANDO VIEREM OS TOUROS DESALMADOS

ANTONIO BRASILEIRO

Quero estar de coração quieto
quando vierem os touros desalmados.

Dirão que me enfurnei
em mim mesmo, 
que não enfrentei bezerros, 
que vi sombras.
Mas quero estar quieto
à hora dos touros.

Nenhuma queixa, pois tudo soube.
Ou, se não soube, esqueci.
Se esqueci, eis porque
quero estar de coração quieto.
Eu, a soma de mim mesmo
com meus eus já tão surrados!

Mas, que espero, se é tão longo
o percurso das chegadas?

Quando vierem os touros desalmados,
hei de estar quites com minha própria culpa.
Sombra de sombras numa estrada branca.

MIA COUTO - SOTAQUE DA TERRA



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SOTAQUE DA TERRA

MIA COUTO

Estas pedras 
sonham ser casa

sei 
porque falo
a língua do chão

nascida
na véspera de mim
minha voz
ficou cativa do mundo,
pegada nas areias do Indico

agora
ouço em mim
o sotaque da terra

e choro 
com as pedras
a demora de subirem ao sol

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sábado, 6 de abril de 2013

RIBEIRO COUTO - ESQUECER


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ESQUECER

RIBEIRO COUTO

Longos dias de sonho e de repouso...
Ócio e doçura... Sinto, nestes dias, 
Meu corpo amolecer, voluptuoso, 
Num desfalecimento de energias.

A ler o meu poeta doloroso
E a fumar, passo as horas fugidias.
Entre um cigarro e um verso vaporoso
Sou todo evocações e nostalgias.

Quando por tudo a claridade morre
E sobre as folhas do jardim doente
A tinta branca do luar escorre,

A minha alma, à merce de velhas mágoas,
É um pássaro ferido mortalmente
Que vai sendo arrastado pelas águas.

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