terça-feira, 28 de maio de 2013

FAGUNDES VARELA - NÃO TE ESQUEÇAS DE MIM




NÃO TE ESQUEÇAS DE MIM

FAGUNDES VARELA

Não te esqueças de mim, quando erradia
Perde-se a lua no sidério manto;
Quando a brisa estival roçar-te a fronte,
Não te esqueças de mim, que te amo tanto.

Não te esqueças de mim, quando escutares
Gemer a rola na floresta escura,
E a saudosa viola do tropeiro
Desfazer-se em gemido de tristura.

Quando a flor do sertão, aberta a medo,
Pejar os ermos de suave encanto,
Lembre-te os dias que passei contigo,
Não esqueças de mim, que te amo tanto.

Não te esqueças de mim, quando à tardinha
Se cobrirem de névoa as serranias,
E na torre alvejante o sacro bronze
Docemente soar nas freguesias!

Quando de noite, nos serões de inverno,
A voz soltares modulando um canto,
Lembre-te os versos que inspiraste ao bardo,
Não te esqueças de mim, que te amo tanto.

Não te esqueças de mim, quando meus olhos
Do sudário no gelo se apagarem,
Quando as roxas perpétuas do finado
Junto à cruz de meu leito se embalarem.

Quando os anos de dor passado houverem,
E o frio tempo consumir-te o pranto,
Guarda ainda uma ideia a teu poeta,
Não te esqueças de mim, que te amo tanto.

JUDAS ISGOROGOTA - PONTO FINAL




PONTO FINAL

JUDAS ISGOROGOTA

"Ponho um ponto final na nossa história.
Não me escrevas jamais, que tudo cansa.
Foi aquilo uma cousa transitória,
Que já varri de todo da lembrança.

Faze outro tanto. Apaga da memória
O nada que houve entre nós dois: a aliança,
As promessas, as juras, a esperança
Daquela idade efêmera e ilusória.

Faze o mesmo que fiz, que te não custa;
Nesta história de amor, envelhecida, 
Põe um ponto final. Adeus. Augusta."

Lendo essa carta, há muito recebida,
Meu coração cada vez mais se assusta,
Porque ela pôs o ponto... em minha vida!

ZEFERINO BRASIL - ASPIRAÇÃO




ASPIRAÇÃO

ZEFERINO BRASIL

Ser pedra! não sofrer nem amar, ó que ventura!
Excelsa aspiração que merece um poema!
Ser pedra e ter da pedra a consistência dura
Que resiste do tempo à corrupção extrema.

Alma! sopro de luz que me anima e depura,
Antes tu fosses pedra: um diamante, uma gema
Não te seria a vida esta insana loucura
Do eterno aspirar à perfeição suprema!

Homem, não mudarás! És homem, serás homem;
Lama vil animada, onde vive e onde medra
A venenosa flor das mágoas que consomem.

Homem sempre serás, imperfeito e corruto...
E melhor é ser pedra e viver como pedra
Que ser homem assim e viver como um bruto!..


ANTERO ABREU - UMA CANÇÃO DA PRIMAVERA




UMA CANÇÃO DA PRIMAVERA

ANTERO ABREU

nesta flor sem fruto que aspiramos
eu vejo coisas que ninguém descobre:
descubro o grão, o caule, os ramos,
e até o sulfato de cobre.

e ainda vejo o que ninguém mais vê:
vejo a flor a desenhar-se em fruto.
e quer ela o dê, quer não dê,
é esse o fim por que luto.

J. G. DE ARAÚJO JORGE - COVARDIA




COVARDIA

J. G. DE ARAÚJO JORGE

O que me falta é a coragem para fazer como Gaugin
e ir pintar as ilhas e as mulheres dos mares do Sul.

Não cair em Jack London
mas pintar pelo menos céus amarelos como os de Van Gogh
e beber absinto como Rimbaud.

O que me falta é a coragem para ir ao encontro que
marquei comigo mesmo
numa esquina do mundo
para encontrar o destino...

MIA COUTO - FUI SABENDO DE MIM




FUI SABENDO DE MIM

MIA COUTO

Fui sabendo de mim
por aquilo que perdia

pedaços que saíram de mim
com o mistério de serem poucos
e valerem só quando os perdia

fui ficando 
por umbrais
aquém do passo
que nunca ousei

eu vi 
a árvore morta
e soube que mentia

quinta-feira, 16 de maio de 2013

BRÁULIO DE ABREU - FIM




FIM

BRÁULIO DE ABREU

Tu partiste e eu fiquei sofrendo a vida,
Pois nosso amor morreu. A desventura
Tomou conta de mim, alma possuída
Pela desesperança que amargura.

Nosso amor foi manhã, quando nascida,
E hoje, que se acabou, é noite escura,
Ave que tomba pela dor ferida,
Sonho que não é berço: é sepultura.

Nosso amor floresceu em campo aberto...
Hoje, sem mais florir, lembra um deserto
Que de lembranças imortais se junca.

Tudo acabou, depois de tantos anos.
Resta, além de silêncio e desenganos,
Minha saudade que não morre, nunca.

J. G. DE ARAÚJO JORGE - COMANDANTE




COMANDANTE

J. G. DE ARAÚJO JORGE

Nesta manhã de sol, de praia em festa,
de feriado para o coração
- olho apenas.

Uns jogam peteca na areia...
Outros passeiam de mãos dadas.
Ela carrega o futuro no carrinho.

Há também um navio branco como espátula
cortando a onda verde,
e gaivotas riscando abstrações
na manhã transparente,
e um menino que assovia...
e outro menino que berra...
.......................................................................

Oh! Meu Deus, todo mundo é comandante de navio,
só eu fiquei em terra...

OLEGÁRIO MARIANO - O SONO DA SOMBRA




O SONO DA SOMBRA

OLEGÁRIO MARIANO

Tua sombra rolou nos meus braços cansada...
Adormeceu. E, quando a noite veio,
Encontrou-me chorando, a cabeça agitada,
Ainda tonto do aroma do teu seio.

Toda a noite escutei lenta a pancada
Do teu pequeno coração no anseio.
E a tua sombra me fugiu com a madrugada...
Se tinha de fugir, para que veio?

Se tinha de fugir por que, de manso,
Se aconchegou pelo meu corpo inteiro
Como um raio de sol nas águas de um remanso?

Por que, se o amor é lindo e a vida é bela?
Por que espalhou nas minhas mãos aquele cheiro?
Por que deixou meu coração tão cheio dela?

quinta-feira, 9 de maio de 2013

JOSÉ CRAVEIRINHA - UM HOMEM NUNCA CHORA




UM HOMEM NUNCA CHORA

JOSÉ CRAVEIRINHA

Acreditava naquela história
do homem que nunca chora.

Eu julgava-me um homem.

Na adolescência
meus filmes de aventuras
punham-me muito longe de ser cobarde
na arrogante criancice do herói de ferro.

Agora tremo.
E agora choro.

Como um homem treme.
Como chora um homem!

MAMÃE (LA MAMMA)




MAMÃE

CHARLEZ AZNAVOUR / ROBERT GALL
                                  (Versão de NAZARENO DE BRITO)  

O véu da noite vai chegar,
E docemente vai nublar, 
Os olhos meigos de
Mamãe.
E vendo a vida se apagar,
E tendo amor a transbordar,
Repete ainda uma oração,
Tremendo os lábios de emoção.  

Ao ver que estou a soluçar,
E uma lágrima a rolar,
Me pede cheia de ternura
Que lhe dedique uma canção,
Ai, Mamãe.

Vejo em teu rosto angelical,
Que Deus a chama para si,
Me castigando, 
ai, mamãe.
Santa Maria envolvera, 
Com sua luz celestial,
E a voz de um anjo cantará
A suave Ave Maria.
Ave Maria...
Há tanto amor, tanta bondade
Em teu viver, ó Mamãe.

Enquanto a vida em mim florir,
Tua lembrança há de existir.
Hás de seguir, sempre ao meu lado,
Enquanto eu viva, ó Mamãe.
Quando chorar, quando sorrir,
Relembrarei, ai, Mamãe.
E jamais, jamais, jamais
Te afastarás.






LA MAMMA (VERSÃO ORIGINAL)

CHARLEZ AZNAVOUR / ROBERT GALL
                                  (Versão de NAZARENO DE BRITO)  

Ils sont venus, ils sont tous là
Dés qu'ils ont entendu ce cri
Elle va mourir la Mamma

Ils sont venus, ils sont tous là
Même ceux du sud de l'Italie
(Il) Y a même Georgio, le fils maudit
Avec des présents plein les bras

Tous les enfants jouent en silence
Autour du lit sur le carreau
Mais leurs jeux n'ont pas d'importance
C'est un peu leur dernier cadeau à la Mamma

On la réchauffe de baisers
On lui remonte ses oreillers
Elle va mourir la Mamma

Sainte Marie pleine de grâce
Dont la statue est sur la place
Bien sûr vous lui tendez les bras
En lui chantant "Ave Maria"

Ave Maria
Il y a tant d'amour, de souvenirs,
Autour de toi, toi, la Mamma
Il y a tant de larmes, 
et de sourires,
A travers toi, toi, la Mamma

Et tous les hommes ont eu si chaud
Sur les chemins de grand soleil
Elle va mourir la Mamma

Qu'ils boivent frais le vin nouveau
Le bon vin de la bonne treille
Tandis que s'entassent pêle-mêle,
Sur les bancs, foulards et chapeaux

C'est drôle, on ne se sent pas triste
Prés du grand lit de l'Affection
(Il) Y a même un oncle guitariste
Qui joue en faisant attention
A la Mamma

Et les femmes se souvenant
Des chansons tristes des veillées
Elle va mourir la Mamma

Tout doucement, les yeux fermés
Chante comme on berce un enfant
Aprés une bonne journée
Pour qu'il sourit en s'endormant

Ave Maria
Il y a tant d'amour, de souvenirs,
Autour de toi, toi, la Mamma
Il y a tant de larmes, et de sourires,
A travers toi, toi, la Mamma
Que jamais, jamais, jamais,
Tu (ne) nous quitteras





NEL CÂNDIDO - CHOVIA TORRENCIALMENTE


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CHOVIA TORRENCIALMENTE

NEL CÂNDIDO

Chovia torrencialmente
naquela primeira manhã de janeiro,
quando minha mãe foi sepultada.
A Natureza parecia chorar
toda a dor havida em meu peito.

Penso que ao chegar minha hora, 
o sol estará brilhando,
os pássaros, voando,
tudo seguindo seu curso.

Sinal de que  o mundo
prescinde de mim.

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quarta-feira, 8 de maio de 2013

ALDA LARA - DE LONGE




DE LONGE

ALDA LARA

Não chores Mãe... Faz como eu, sorri!
Transforma as elegias de um momento
em cânticos de esperança e incitamento.
Tem fé nos dias que te prometi.

E podes crer, estou sempre ao pé de ti,
quando por noites de luar, o vento,
segreda aos coqueirais o seu lamento, 
compondo versos que eu nunca escrevi...

Estou junto a ti nos dias de braseiro,
no mar... na velha ponte... no Sombreiro,
em tudo quanto amei e quis p'ra mim...

Não chores, mãe!... A hora é de avançadas!...
Nós caminhamos certas, de mãos dadas
e havemos de atingir um dia, o fim..


ABGAR RENAULT - IRREMEDIÁVEL TRISTEZA


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IRREMEDIÁVEL TRISTEZA

ABGAR RENAULT


Eu hoje estou inabitável...
Não sei porquê,
levantei com o pé esquerdo:
o meu primeiro cigarro amargou
como uma colherada de fel;
a tristeza de vários corações bem tristes
veio, sem quê, nem por quê,
encher meu coração vazio... vazio...

Eu hoje estou inabitável...
A vida está doendo... doendo...
A vida está toda atrapalhada...
Estou sozinho numa estrada
fazendo a pé um raid impossível.
Ah! se eu pudesse me embebedar
e cambalear... cambalear...
cair, e acordar desta tristeza
que ninguém, ninguém sabe...
Todo mundo vai rir destes meus versos,
mas jurarei por Deus se for preciso:
eu hoje estou inabitável...

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AMÉLIA VEIGA - RENÚNCIA


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RENÚNCIA

AMÉLIA VEIGA

Entorno os olhos
neste dia longo de renúncia e vejo para além da vida...
Acaricio os crepes que me vestem
a alma dolorida
e vejo para além da morte...

O sonho escorre sobre mim
como água de chuva
que os meus dedos não prendem...

Estou fria e distante
como uma estátua antiga
num jardim...

Do sonho estou viúva
e viúva estou... de mim...

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TEIXEIRA DE PASCOAES - A UMA OVELHA


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A UMA OVELHA

TEIXEIRA DE PASCOAES

Entre as meigas ovelhas pobrezinhas,
que eu guardo, pelos montes, uma existe
que anda, longe, balindo, sempre triste,
e vive só das ervas mais sequinhas..

Que pressentes na alma? que adivinhas?
Etérea voz de dor acaso ouviste?
Que foi que tu, nas nuvens, descobriste?
Não és irmã das outras ovelhinhas!

Sobes às altas fragas escarpadas,
e contemplas o sol que desfalece
e as primeiras estrelas acordadas...

E assim paras, a olhar o céu profundo, 
faminta dessa relva, que enverdece
os outeiros e os vales do Outro Mundo.

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RIBEIRO COUTO - SONETO DA FIEL INFÂNCIA




SONETO DA FIEL INFÂNCIA

RIBEIRO COUTO

Tudo que em mim foi natural - pobreza,
Mágoas de infância só, casa vazia, 
Lutos, e pouco pão na pouca mesa -
Dói na saudade mais que então doía.

Da lamparina do meu quarto, acesa
No pequeno oratório noite e dia,
Vinha-me a sensação de uma riqueza
Que no meu sangue de menino ardia.

Altas horas, rezando no seu canto,
Minha mãe muitas vezes soluçava
E dava-me a beijar não sei que santo.

Meu Deus! Mais do que o santo que eu beijava,
Faz-me falta o cair daquele pranto
Com que ela junto ao peito me molhava.


MIA COUTO - POEMA DA DESPEDIDA




POEMA DA DESPEDIDA

MIA COUTO

Não saberei nunca
dizer adeus

Afinal,
só os mortos sabem morrer

Resta ainda tudo,
só nós não podemos ser

Talvez o amor,
neste tempo,
seja ainda cedo

Não é este sossego
que eu queria,
este exílio de tudo,
esta solidão de todos

Agora
não resta de mim
o que seja meu
e quando tento
o magro invento de um sonho
todo o inferno me vem à boca

Nenhuma palavra 
alcança o mundo, eu sei
Ainda assim, 
escrevo.

terça-feira, 7 de maio de 2013

JOÃO XAVIER DE MATOS - PÔS-SE O SOL


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PÔS-SE O SOL

JOÃO XAVIER DE MATOS

Pôs-se o sol...  Como já, na sombra feia
Do dia, pouco a pouco, a luz desmaia!
E a parda mão da Noite, antes que caia,
De grossas nuvens todo o ar semeia!

Apenas já diviso a minha Aldeia;
Já do cipreste não distingo a faia:
Tudo em silêncio está. Só, lá na praia,
Se ouvem quebrar as ondas pela areia.

Com a mão na face, a vista ao Céu levanto,
E cheio de mortal melancolia,
Nos tristes olhos mal sustenho o pranto;

E se inda algum alívio ter podia
Era ver esta Noite durar tanto, 
Que nunca mais amanhecesse o dia!

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HERMES FONTES - MÃE


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MÃE

HERMES FONTES

Para dizer-te quem foi a minha mãe, não acho
uma palavra própria, um pensamento bom.
Diógenes - busco-o em vão: falta-me a luz de um facho,
- se acho som, falta a luz; se acho a luz, falta o som!

Teu nome - ó minha mãe - tem  o sabor de um cacho
de uvas diáfanas, cor de ouro e pérola, com
polpa de beijos de anjo... Ouvi-lo é ouvir um riacho
merencório, a rezar, no seu eterno tom...

Minha mãe! minha mãe! eu não fui qual devera!
Morreste e não bebi em teus lábios de cera
a doçura que as mães, inda mortas, contem...

Ao pé de nossas mães - todos nós somos crentes...
Um filho que tem mãe - tem todos os parentes...
- E eu não tenho por mim, ó minha mãe, ninguém!

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ANTERO ABREU - CANTO ANÔNIMO


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CANTO ANÔNIMO

ANTERO ABREU

De terra e nervos, eis de que sou feito,
Porque homem sou, homem simplesmente.
Saibam as estrelas o que penso,
Seja ou não seja o abismo imenso.
Quero elevar a minha voz,
Que foi feita para gritar,
Quero erguer os meus punhos,
Que foram feitos para bater ou perdoar,
Quero dirigir os meus pés
Pra onde a razão o ordenar.
Homem sou, homem simplesmente,
Quero para mim a vida, vivê-la inteiramente.
E vós, estrelas, sabei isto que sei:
De terra e nervos, eis de que sou feito.
E seja ou não o abismo imenso,
Eu, homem, homem simplesmente,
conquistar-vos-ei...

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HEITOR LIMA - CINZAS


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CINZAS

HEITOR LIMA

A última brasa ardeu na cinza adusta:
Tudo passou, tudo se fez em poeira...
E na minha alma, que o abandono assusta, 
Morre a luz da esperança derradeira.

O amor mais casto, a aspiração mais justa
Têm a desilusão para fronteira...
Um momento de sonho às vezes custa
O sacrifício da existência inteira!

Chama efêmera, o amor! Baldado surto,
A glória! Ah! coração mesquinho e raso...
Ah! pensamento presumido e curto...

E o amor, que arrasta, e a glória, que fascina,
- Tudo se perderá no mesmo ocaso
E se confundirá na mesma ruína.

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domingo, 5 de maio de 2013

ALBERTO DA CUNHA MELO - AEROPORTO


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AEROPORTO

ALBERTO DA CUNHA MELO

Tempo gigantesco é um dia,
para quem perdeu a viagem,
o endereço para onde iria,
seu bilhete, sua bagagem,

para sua alma não vadia,
tempo gigantesco é um dia,

para quem sonhava distância
da própria história e não consegue,
sem asco, lembrar-se da infância,

mesmo com Deus por companhia,
tempo gigantesco é um dia.

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ZITO BATISTA - O CARNAVAL




O CARNAVAL

ZITO BATISTA

Põe a máscara e vai para a folia,
Na afetação de uns gestos singulares,
Esquecido dos íntimos pesares
Que te atormentam todo santo dia...

Homem doente, perdido nesses mares
Tenebrosos da dúvida sombria,
Vê que há lá fora um frêmito de orgia,
Mesmo através das coisas mais vulgares!

Põe-te a cantar, desabaladamente!
Vai para a rua aos trambolhões, às tontas,
Como se enlouquecesses de repente...

Agarra-te à alegria passageira:
Olha que o que te espera, ao fim de contas,
É o triste Carnaval da vida inteira...