sábado, 30 de março de 2013

J. G. DE ARAÚJO JORGE - BARCO AFUNDADO


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BARCO AFUNDADO

J. G. DE ARAÚJO JORGE

Sou o homem mais triste
do mundo, 
depois que tu partiste.

Ninguém sabe, ninguém vê. Sou triste
por dentro, calado
no mais profundo
do ser, onde ninguém pode chegar...

Sou como um barco em festa, que afundou,
embandeirado, 
a morrer em silêncio, ignorado, 
no fundo do mar..

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CARMEN CINIRA - PARTIDA


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PARTIDA

CARMEN CINIRA
                 À memória de um bom

Dês que te foste, eu olho para a vida
Com toda a indiferença de um descrente;
Mas, como hão de julgar-me erroneamente,
Como passa esta dor despercebida!

Ah! quantas vezes, num sorriso, a gente,
Curtindo agruras duma atroz ferida,
Disfarça a custo a lágrima sentida
Que nos vem d'alma, límpida, silente!

Sei que não tornas mais, que me levaste
Toda a alegria, os sonhos, a esperança...
Mas, na tristeza acerba que me invade,

Eu sinto que, partindo, tu ficaste
Em tudo que cerca, na lembrança,
Neste abismo infinito de saudade!

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OLEGÁRIO MARIANO - NOTURNO


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NOTURNO

OLEGÁRIO MARIANO

O crepúculo entrou de sala adentro... Ainda
O primeiro Noturno extasiava o teclado...
Como aos meus olhos tu ficaste linda!
Em sangue o lábio, o corpo iluminado,
Meu grande e humano lírio do Passado!

Na luz que em torno abria uma sombra velada,
Teu gesto era mais triste e era mais brando.
Vinha de ti o olor de uma rosa fanada...
E o teu olhar que está quase sempre chorando,
Pela sala espalhava uma poeira doirada...

O tempo que mais dói é o que a gente recorda
Num perfume, num som, num gesto ou num sorriso.
Vaga recordação que nos lábios acorda
Toda a volúpia cruel de um passado indeciso,
Onde houve um inferno a arder dentro de um paraíso.

Toda uma história. Um quase nada. O cheiro
De um lenço, um verso que a alma nos traspassa.
Depois, o grande beijo derradeiro.
E o incêndio passa como tudo passa...
Mas fica sempre a cinza no braseiro.

Cinza. Saudade imensa que não finda,
Do que fui, do que foste, ideal sonhado!
Vejo-te cada vez mais triste e linda
E eu cada vez mais triste e desgraçado, 
Mais desgraçado porque te amo ainda.

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ETIQUETAS




ETIQUETAS

CARLOS COLLA

Vem me faz feliz por um momento apenas
Fala de amor das coisas mais amenas
E diz que eu sou o bem da tua vida
Vem mente pra mim, mas diz coisas bonitas
Fala de tudo aquilo em que acreditas
Me faz sonhar ouvindo a tua voz
Vem viver comigo as horas mais serenas
Fazer poesias ou coisas obscenas
Pra me beijar ou me agredir estou aqui
Vem porque a saudade
Amarga em minha boca
Na solidão da cama a ânsia louca
Me desepera e eu não posso dormir
Vem e apaga do meu rosto o que mereço
Arranca as etiquetas rasga o preço
Mas vem por Deus pra me fazer feliz




sexta-feira, 29 de março de 2013

AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT - MOMENTO




MOMENTO

AUGUSTO FREDERICO SCHIMIDT

Desejo de não ser um heroí e nem poeta
Desejo de não ser senão feliz e calmo.
Desejo das volúpias castas e sem sombra
Dos fins de jantar nas casas burguesas.

Desejo manso das moringas de água fresca
Das flores eternas nos vasos verdes.
Desejo do filhos crescendo vivos e surpreendentes
Desejo de vestidos de linho azul da esposa amada.

Oh! não as tentaculares investidas para o alto
E o tédio das cidades sacrificadas.
Desejo de integração no cotidiano.

Desejo de passar em silêncio, sem brilho
E desaparecer em Deus - com pouco sofrimento
E com a ternura dos que a vida não maltratou.

quinta-feira, 28 de março de 2013

ANTONIO BRASILEIRO - NUANÇA


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NUANÇA

ANTONIO BRASILEIRO

Meus caminhos, meus mapas,
meus caminhos.

Tudo está em ordem
em minha vida.

Como se faltasse 
alguma coisa.

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NEL CÂNDIDO - SÁBADO SANTO


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SÁBADO SANTO

NEL CÂNDIDO

Chegam-me aos ouvidos
as vozes e gritos de crianças
brincando lá fora.
Pela janela contemplo a montanha,
as árvores, o gramado, pessoas
alegres, andando, nadando.
Há tanta vida lá fora!
Porém, só me sinto atraído
para a cadeira de balanço.
Quero sentar-me e balançar, desanimado,
esperando a morte chegar.
Tenho dúvidas se ressuscitarei...

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ALBANO MARTINS - PEQUENAS COISAS


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PEQUENAS COISAS

ALBANO MARTINS

Falar do trigo e não dizer
o joio. Percorrer
em voo raso os campos
sem pousar
os pés no chão. Abrir
um fruto e sentir
no ar o cheiro
a alfazema. Pequenas coisas, 
dirás, que nada
significam perante
esta outra, maior: dizer 
o indizível. Ou esta:
entrar sem bússola
na floresta e não perder
o rumo. Ou essa outra, maior
que todas e cujo
nome por precaução 
omites. Que é preciso,
às vezes, 
não acordar o silêncio.

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ALPHONSUS DE GUIMARAENS - AI DOS QUE VIVEM SE NÃO FORA O SONO! (VIII)


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AI DOS QUE VIVEM, SE NÃO FORA O SONO! (VIII)

Alphonsus de Guimaraens

Ai dos que vivem, se não fora o sono!
O sol, brilhando em pleno espaço, cai
Em cascatas de luz; desce do trono
E beija a terra inquieta, como um pai.

E surge a primavera. O áureo patrono
Da terra é sempre o mesmo sol. Mas ai
Da primavera, se não fora o outono,
Que vem e vai, e volta, e outra vez vai.

Ao níveo luar que vaga nas colinas
Sucedem sombras. Sempre a lua tem
A escuridão dos sonhos agoureiros.

Tudo vem, tudo vai, do mundo é a sorte...
Só a vida, que se esvai, não mais nos vem.
Mas ai da vida, se não fora a morte!

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J. G. DE ARAÚJO JORGE - EXORCISMO


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EXORCISMO

J. G. DE ARAÚJO JORGE

Toda dia me repito, num constante exercício:

- prepara-te para a solidão, 
aprende a bastar-te a ti mesmo,
a não chamares ninguém...

Sê teu próprio penhasco
e vive em teu coração
como um montanhês
ou como um faroleiro...

E quem sabe se não acabarás forte bastante
para poderes sobreviver à sua ausência?

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POESIAS PSICOGRAFADAS - DO MEU PORTO


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DO MEU PORTO
                 
ALBÉRICO LOBO
                  (Psicografia de Francisco Cândido Xavier)

                                       (Ao caro amigo M. Quintão)

Viajor vacilante e extenuado,
Depois de atravessar a sombra imensa,
Encontrei o país abençoado
Onde vive a celeste recompensa.

Adeus mágoas da noite estranha e densa,
Das angústias e sonhos do passado,
Não conservo senão o Amor e a Crença,
Ante o novo caminho ilimitado.

É doce descansar após a lida,
Banhar o coração na luz da vida,
Rememorando as dores que passaram...

E dos quadros risonhos do meu porto,
Rogo a Jesus conceda reconforto
Aos corações amados que ficaram!

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FRANCISCO A. GOMES NETO - A TAÇA DA EXISTÊNCIA


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A TAÇA DA EXISTÊNCIA

FRANCISCO A. GOMES NETO

No fundo escuro deste imenso porto
de minha vida, ancoradouro incerto,
procuro sempre deparar conforto
que dê ventura ao coração deserto.

Porém, que sinto, quando às vezes, morto,
desesperado, ou de ilusão coberto,
penso na luta, no trabalho, absorto, 
empreendidos com desejo aberto?!...

Somente as trevas de invernosas noites 
a deturpar-me a aspiração nascente
e do Destino os mais cruéis açoites!...

Mas prossigamos, viajor descrente,
ò peito em brasas, nunca mais te afoites!
Saibas sofrer, e viverás contente!...

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MARIO QUINTANA - DA VEZ PRIMEIRA...


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DA VEZ PRIMEIRA...

MARIO QUINTANA

Da vez primeira em que me assassinaram
Perdi um jeito de sorrir que eu tinha...
Depois, de cada vez que me mataram
Foram levando qualquer coisa minha....

E hoje, dos meus cadáveres, eu sou
O mais desnudo, o que não tem mais nada...
Arde um toco de vela, amarelada...
Como o único bem que me ficou!

Vindes, corvos, chacais, ladrões da estrada!
Ah! desta mão, avaramente adunca,
Ninguém há de arrancar-me a luz sagrada!

Aves da Noite! Asas do Horror! Voejai!
Que a luz, trêmula e triste como um ai,
A luz do morto, não se apaga nunca!

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OLEGÁRIO MARIANO - SOUVENIR




SOUVENIR

OLEGÁRIO MARIANO

A chuva cai pelos telhados,
Fina, sutil, horas a fio...
Pelos passeios desolados
Os buganviles paralisados
Frios na chuva, morrem de frio...

          Encosto o rosto na vidraça:
          Na garoa que vem do céu sem lua,
          Um vagabundo passa, 
          Cantarolando uma canção da rua.

Trila ao pé do fogão um grilo triste.
Abro um livro qualquer
E na folha do livro, entre poemas, existe
Um nome quente de mulher

          Quero chamar-te. Súbito, lá fora,  
          Dentro da noite feia e linda,
          Um violino, à distância, acorda e chora,
          Enervante de crueldade:
          Souvenir... O Passado... Amo-te ainda...
          A chuva cai... Amo-te ainda... Que saudade!

segunda-feira, 25 de março de 2013

LYA LUFT - CANÇÃO EM CAMPO VASTO




CANÇÃO EM CAMPO VASTO

LYA LUFT

Deixa-me amar-te com ternura, tanto
que nossas solidões se unam,
e cada um falando em sua margem 
possa escutar o próprio canto.

Deixa-me amar-te com loucura, ambos
cavalgando mares impossíveis
em frágeis barcos e insuficientes velas,
pois disso se fará a nossa voz.

Ajuda-me a amar-te sem receio:
a solidão é um campo muito vasto
que não se deve atravessar a sós.

VINÍCIUS DE MORAES - SONETO DE SEPARAÇÃO




SONETO DE SEPARAÇÃO

VINÍCIUS DE MORAES

De repente do riso fez-se o pranto
Silencioso e branco como uma bruma
E das bocas unidas fez-se a espuma
E das mãos espalmadas fez-se o espanto.

De repente da calma fez-se o vento
Que dos olhos desfez a última chama
E da paixão fez-se o pressentimento
E do momento imóvel fez-se o drama.

De repente, não mais que de repente
Fez-se de triste o que se fez amante
E de sozinho o que se fez contente.

Fez-se do amigo próximo o distante
Fez-se da vida uma aventura errante
De repente, não mais que de repente.

sexta-feira, 22 de março de 2013

CASSIANO RICARDO - O SÓSIA


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O SÓSIA

CASSIANO RICARDO

Dificilmente, ó amigo,
você me encontrará presente, em casa.
Pois eu sofro de ausência,
como se houvese, em mim, uma asa.

A esperança e a saudade
- o leste e o oeste do meu corpo obscuro - 
são duas formas de eu nunca estar em casa, 
quando me procuram, e eu mesmo me procuro.

Vivo, continuamente longe
de mim, nas horas em que me decomponho
num sonho; estou no outro hemisfério,
que é um não sei onde, onde só ausência lavra.

Só me encontro comigo, ó amigo,
se me divido em dois, diante do espelho.
Um em frente do outro,
sem nenhuma palavra.

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GUIMARÃES PASSOS - ...DEPOIS




...DEPOIS

GUIMARÃES PASSOS

Para mim, pouco importa a recompensa
Dos meus carinhos, quando te procuro;
Dirão que tens um coração tão duro,
Que pedra alguma há que em rijeza o vença.

Dirão que a calculada indiferença
Com que tu me recebes, é seguro
Condão que tens, de todo o meu futuro
Trocar, sorrindo, em desventura imensa.

Dirão... Que importa a mim? Dá-me o teu leito,
Dá-me o teu corpo, fecha-me nos braços,
Une os lábios aos meus, o peito ao peito,

Que eu nem saiba qual seja de nós dois...
Mentem teus beijos? mentem teus abraços?
Será tudo mentira... mas depois.

ADELMAR TAVARES - MÃOS FRIAS




MÃOS FRIAS

ADELMAR TAVARES

Mãos frias, coração quente,
Mãos quentes, coração frio.
Diz isso o adágio prudente,
Grave, solene e sombrio.

Dessas palavras fulgentes,
Eu tenho a prova, não rias.
As tuas mãos são tão quentes,
As minhas mãos são tão frias...

NEL CÂNDIDO - TODA TARDE...


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TODA TARDE...

NEL CÂNDIDO

Toda tarde, da varanda de mi'a casa
observo a revoada de urubus
circundando o céu acima de onde estou.
Esperança, mais que eu, tem essas aves,
pois me espreitam, dia a dia, sem cessar, 
aguardando meu cerrar final dos olhos...
as rapinas que, há muito, já sentiram
que estou morto, apesar de caminhar.


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MIA COUTO - SEM DEPOIS





SEM DEPOIS

MIA COUTO

Todas as vidas gastei 
para morrer contigo.

E agora 
esfumou-se o tempo
e perdi o teu passo
para além da curva do rio.

Rasguei as cartas.
Em vão: o papel restou intacto.
Só os meus dedos murcharam, decepados.

Queimei as fotos.
Em vão: as imagens restaram incólumes
e só os meus olhos se desfizeram, redondas cinzas.

Com que roupa
vestirei minha alma
agora que já não há domingos?

Quero morrer, não consigo.
Depois de te viver
não há poente
nem o enfim de um fim.

Todas as mortes gastei 
para viver contigo.

ALCEU WAMOSY - DUAS ALMAS


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DUAS ALMAS

ALCEU WAMOSY
                        A Coelho da Costa

Ó tu, que vens de longe, ó tu, que vens cansada,
entra, e, sob este teto encontrarás carinho:
Eu nunca fui amado, e vivo tão sozinho,
vives sozinha sempre, e nunca foste amada..

A neve anda a branquear, lividamente, a estrada,
e a minha alcova tem a tepidez de um ninho.
Entra, ao menos até que as curvas do caminho 
se banhem no esplendor nascente da alvorada.

E amanhã, quando a luz do sol dourar, radiosa,
essa estrada sem fim, deserta, imensa e nua,
podes partir de novo, ó nômade formosa!

Já não serei tão só, nem irás tão sozinha;
há de ficar comigo uma saudade tua...
Hás de levar contigo uma saudade minha...
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REENCONTRO


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REENCONTRO

IVAN REIS

Agora vem você de novo
Pra virar minha cabeça
Fazer com que eu esqueça tudo
E volte atrás, meu bem, e nem me lembre mais...
Das tristezas que causamos
Aos nossos corações
Das ilusões que fazem dos amantes
Dois seres tão distantes, ah ah!
Agora vem você de novo
Para me tirar do sério
E controlar com seu mistério tudo
O que era simplesmente fácil de dizer.
Eu aqui apaixonado e cego pro passado
Quero me esquecer de tudo e voltar pro seu lado
E reconstruir o sonho que só fez de nós, tão sós!
Vem com o seu sorriso largo
Adoçar o amargo que essa ausência trás
Vem beijar-me novamente
Com seu beijo quente
Que tão bem me faz
Vem, e me abrace forte
Não me deixe a sorte nunca, nunca mais
Eu quero te amar com a força de que eu for capaz!




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