sexta-feira, 31 de janeiro de 2014
VASCO DE CASTRO LIMA - HISTÓRIA DE AMOR
HISTÓRIA DE AMOR
VASCO DE CASTRO LIMA
Nossa história de amor, minha querida,
por culpa tua é que não foi feliz...
De certo, nenhum homem nesta vida
quis a alguma mulher como eu te quis!
Podes reler a história mais sentida
do amorosos de qualquer país:
Laura e Petrarca... Fausto e Margarida...
Paulo e Virgínia... Dante e Beatriz...
Pediste... e a ninguém conto o meu tormento.
Mas vêm fechar-me os lábios no momento
em que, pensando em ti, hei de morrer.
Impedirás, assim, no último dia
que, na triste inconsciência da agonia
eu revele o teu nome sem querer!
SEU AMOR AINDA É TUDO - COMPOSIÇÃO DE MOACYR FRANCO
SEU AMOR AINDA É TUDO
COMPOSIÇÃO DE: MOACYR FRANCO
CANTA: JOÃO MINEIRO E MARCIANO E MOACYR FRANCO
Muito prazer em revê-la, você está bonita
Muito elegante, mais jovem, tão cheia de vida
Eu ainda falo de flores e declamo seu nome
Mesmo os meus dedos me traem e discam o seu telefone
É minha cara, eu mudei, minha cara
Mas por dentro eu não mudo
O sentimento não para, a doença não sara
Seu amor ainda é tudo, tudo
Daquele momento até hoje esperei você
Daquele maldito momento até hoje, só você
Eu sei que o culpado de não ter você sou eu
E esse medo terrível de amar outra vez é meu
Sei não devia dizer o que disse... Perdoa...
Bem que eu queria encontrá-la e sorrir numa boa
Mas convenhamos, a vida nos faz tão pequenos
Nos preparamos pra muito e choramos por menos
DEPOIMENTO DE MOACYR FRANCO SOBRE ESSA MÚSICA
GRAVAÇÃO DE JOÃO MINEIRO E MARCIANO
GRAVAÇÃO DE MOCYR FRANCO
OLEGÁRIO MARIANO - NOTURNO DO SOFRIMENTO
NOTURNO DO SOFRIMENTO
OLEGÁRIO MARIANO
Quando pensei ter encontrado aquela
Que em meu silêncio é vibração sonora,
Meu coração sangrando se esfacela
Como uma rosa que se deita fora.
Toda flor, quando o tempo a descolora,
Já que envelhece, deixa de ser bela,
Assim é a minha vida. De hora em hora,
Morre como o pavio de uma vela.
Mas uma voz me diz baixinho: "Chora!"
E outra voz contradiz: "Canta por ela!
Canta o que ela te deu no afago doce
Dos seus beijos de pétalas molhadas,
A mensagem dos deuses que ela trouxe
Na transparência das manhãs lavadas.
Adoraste-a de joelhos... Deslumbrou-se
Tua vida em surpresas renovadas,
A vida que ela abriu como se fosse
Velho livro de estampas desbotadas.
Hoje passou... Que importa o sofrimento?
Ela cresce, momento por momento,
Dentro de ti e mais a ti se enlaça.
O brilho de uma estrela, em céu nevoento,
Fica maior depois que a estrela passa."
VESPASIANO RAMOS - AMOR
AMOR
VESPASIANO RAMOS
Foi por ali, - contá-lo neste instante,
é abrir o livro que eu fechado tinha,
e lê-lo, folha a folha, emocionante,
desde a primeira à derradeira linha;
é desvendar a história cruciante
da imensa angústia que eu sofrendo vinha,
da imensa mágoa atroz e delirante,
da incomparável desventura minha!
Abrir o livro e, num febril transporte,
folha a folha, tremente, recitá-lo,
é desvendar o amor ingrato e forte
de quem, na vida, ansioso para tê-lo,
teve a suprema dita de encontrá-lo
e a suprema desgraça de perdê-lo!
NEL CÂNDIDO - QUANDO O VINHO ACABOU...
QUANDO O VINHO ACABOU...
NEL CÂNDIDO
Quando o vinho acabou
em Cana, durante as bodas,
disse Maria a Jesus
o que havia sucedido.
"Minha hora não chegou.
Que queres de mim, mulher?"
No entanto, mesmo assim,
transformou em vinho a água.
Quero servir o meu vinho
que se chama poesia,
mas as talhas deste engenho
só transbordam o vazio.
Clamo as Musas que me ajudem,
que me inspirem os poemas,
mas ao longe eu as ouço:
"Tua hora já passou!"
EMÍLIO MOURA - CANÇÃO
CANÇÃO
EMÍLIO MOURA
Viver não dói. O que dói
é a vida que se não vive.
Tanto mais bela sonhada,
quanto mais triste perdida.
Viver não dói. O que dói
é o tempo, essa força onírica
em que se criam os mitos
que o próprio tempo devora.
Viver não dói. O que dói
é essa estranha lucidez,
misto de fome e sede
com que tudo devoramos.
Viver não dói. O que dói,
ferindo fundo, ferindo,
é a distância infinita
entre a vida que se pensa
e o pensamento vivido.
Que tudo o mais é perdido.
JAYME DE ALTAVILA - TEIA D'OURO
TEIA D'OIRO
JAYME DE ALTAVILA
Imperturbável, cauta, entre os ramos, a aranha
Atentamente vai a fina teia urdindo.
Teia enorme que o Sol, em cheio, d'oiro banha
E que se ostenta no alto, assim, tremeluzindo.
Ah! nesse seu labor que paciência tamanha!
Vezes em cada fio, em cada, um tempo infindo!
Mas, que prodígio após! Em rendas da Bretanha
Nada se viu mais delicado, nem mais lindo!
Em redor, nada vê, sempre, a sós, trabalhando...
Pode tudo ser triste, ou ser tudo risonho,
Ela, o fio sutil, continua enredando...
Ó Poeta! - Indiferente à vida humana, estranha,
Perfeita, urdes também, uma trama de Sonho,
Mas, frágil, talvez, como a teia da aranha!
ANTONIO MIRANDA - MEDITAÇÕES SOBRE A MORTE
MEDITAÇÕES SOBRE A MORTE
" Sou onde não estou
estou onde não sou". LACAN
ANTONIO MIRANDA
1
Definitivamente, vou ao hospício
para recobrar a lucidez.
2
Tiro fotos para apreender a realidade
e flagro a morte.
A vida, se existe,
é um deixar de ser.
Mortes sucessivas
antes da derradeira morte
no lugar-comum
do avesso da vida.
3
Pior: um reconstruir-se para continuar sendo
- no paradoxo do absurdo!
4
A fotografia como espelho
no meu álbum de família.
Eu em diversos momentos
de minha morte.
Na memória, um cemitério
revivescente:
"o" nada!
5
Eu já morri
enquanto a literatura
- tentando eludir a morte -
degrada a minha existência
buscando preservá-la
mas só ela me sobrevive.
FÁTIMA IRENE PINTO - SAUDADE
SAUDADE
FÁTIMA IRENE PINTO
Saudade é reviver cada momento,
sentir as mesmas emoções
sem cogitar que tudo se passou há tanto tempo.
Saudade é acordar de manhã
e ter para o ente amado, o primeiro pensamento
e os demais, que vão invadindo a mente
pelo resto do dia.
Saudade é envidar todos os esforços para esquecer
sem contudo perder a mania
de retomar os restos tangíveis que permaneceram,
com os olhos marejados
e descobrir que estes "restos tangíveis" estão vivos
e são ainda o nosso maior e melhor legado.
Saudade é ter a impressão de que nada aconteceu
que ele não partiu, não traiu ou morreu
e que, a qualquer momento,
não importa se aqui ou além
se nesta ou em outra vida,
retomaremos o trajeto interrompido
pelo revés inesperado
e estaremos de novo
caminhando
lado a lado!
ANTONIO CÍCERO - CANÇÃO DO AMOR IMPOSSÍVEL
CANÇÃO DO AMOR IMPOSSÍVEL
ANTONIO CÍCERO
Como não te perderia
se te amei perdidamente
se em teus lábios eu sorvia
néctar quando sorrias
se quando estavas presente
era eu que não me achava
e quando tu não estavas
eu também ficava ausente
se eras minha fantasia
elevada a poesia
se nasceste em meu poente
como não te perderia
JOSÉ MARIA ALVES - O QUE ESTÁ PERTO NEM SEMPRE ESTÁ DESCOBERTO
O QUE ESTÁ PERTO NEM SEMPRE ESTÁ DESCOBERTO
JOSÉ MARIA ALVES
o que está perto nem sempre está descoberto
uma ave marítima cruza o Tejo pensando que dá a volta ao mundo
um ancião passeia-se na praceta em círculos
para que ir mais longe
quando o mundo nos foge?
ANTONIO BRASILEIRO - DAS DEFINIÇÕES DE MANOEL,O SÃO
DAS DEFINIÇÕES DE MANOEL, O SÃO
ANTONIO BRASILEIRO
A vida - diz Manoel, o são - é
tempestável. E que é tempestável,
Manoel? Tempestável? Ah, tempestável!
É a vida, filho. Quem lá sabe!
terça-feira, 21 de janeiro de 2014
J. G. DE ARAÚJO JORGE - CADEIRA DE RODAS
CADEIRA DE RODAS
J. G. DE ARAÚJO JORGE
Tenho enganado o destino
traído minha vida
deixando-me ficar - como estou -
nesta cadeira de rodas do meu tédio...
Quanta aventura, quanto sonho
frutificando em vão,
quanto amor à espera,
para ser colhido
e eu a morrer aos poucos
enraizado e esquecido...
Tantos que se vão, sem adeuses
sem nada, apenas com o seu coração,
com a coragem de romper cabos
e amarras
pela simples alegria de partir...
Tantos que um dia se libertam afinal
sem olhar para trás
sem pensar em voltar,
e se perdem, e se encontram,
e renascem das cinzas do que foram
com as mãos cheias de frutos
Oh! a coragem de partir para não morrer
emparedado!
- atirar-se ao mar, como aqueles velhos navegadores
que adivinhavam terras que ninguém sabia
e enfrentavam o mar - o monstro misterioso -
como loucos pigmeus...
Oh! a coragem de largar o velho porto onde o casco
se enche de algas e ferrugem,
nem que seja apenas
pelo prazer dos ventos livres
o balanço das vagas encapeladas
a expectativa de paisagens irreveladas.
A coragem de conquistar a vida que se esconde
atrás dos horizontes
que palpita e atrai como uma estrela fugidia,
e que chega, quente e viva, quando a colhemos
sazonada pela emoção da morte que amadureceu
em suas imprevisíveis searas.
Tenho enganado meu destino
deixando-me ficar
paralítico, sem remédio,
nesta cadeira de rodas do meu tédio...
- atirar-se ao mar, como aqueles velhos navegadores
que adivinhavam terras que ninguém sabia
e enfrentavam o mar - o monstro misterioso -
como loucos pigmeus...
Oh! a coragem de largar o velho porto onde o casco
se enche de algas e ferrugem,
nem que seja apenas
pelo prazer dos ventos livres
o balanço das vagas encapeladas
a expectativa de paisagens irreveladas.
A coragem de conquistar a vida que se esconde
atrás dos horizontes
que palpita e atrai como uma estrela fugidia,
e que chega, quente e viva, quando a colhemos
sazonada pela emoção da morte que amadureceu
em suas imprevisíveis searas.
Tenho enganado meu destino
deixando-me ficar
paralítico, sem remédio,
nesta cadeira de rodas do meu tédio...
FÁTIMA IRENE PINTO - MEUS FANTASMAS
MEUS FANTASMAS
FÁTIMA IRENE PINTO
Deixem-me em paz todos vocês que me atormentam
Que fazem-me cobranças veladas
Que brincam com as minhas culpas
Que julgam-me inepta e despreparada
Que pegam carona nas minhas carências
Que tiram partido dos meus temores
Que superestimam o que lhes convêm
Que subestimam o que ignoram
Que deitam sal em feridas expostas
Que enfraquecem-me com forças opostas
Que gotejam fel em esperanças parcas
Que aviltam-me a alma com profanas marcas
Que minam as bases daquilo que prezo
Que erigem edifícios sobre o que desprezo
Que vestem máscaras horrendas que não quero ver
Que retiram os sete véus do que é preciso esquecer
Que se instalam como símbolos múltiplos e insidiosos
Que aparecem como ratos nos meus pesadelos
Que insistem neste estranho jogo de dualidade
Que fazem parecer mentiras as minhas verdades
Deixem-me em paz todos vocês
Deixem-me em paz
Deixem
Apenas
PAZ.
AFONSO ESTEBANEZ STAEL- ANIVERSÁRIO
ANIVERSÁRIO
AFONSO ESTEBANEZ STAEL
Hoje eu quero de presente
as perdas que nós tivemos
daquele encontro marcado
a que não comparecemos.
As marcas dos nossos pés
naquela estrada impedida,
os rumos daqueles passos
que jamais demos na vida.
O sonho que nem tivemos
e o que temos sem querer
ao acordarmos de sonhos
que sonhamos sem saber.
Ternuras para o consumo
das nossas almas abertas
ao instinto mais profundo
de nossas vidas desertas.
Ô! rosa que não me deste
esta flor ausente em mim
ô! o crepúsculo apagando
tão cedo no meu jardim...
AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT - SONETO
SONETO
AUGUSTO FREDERICO SCHMIDT
Só preciso de poesia.
Não quero mais nada,
Não quero sorrisos,
Nem luxo, nem fama,
Nem bruxas, nem bodas
Nem gritos de guerra,
Nem doidos volteios
Nas danças sensuais.
Só aspiro poesia. Poesia
E silêncio. No mundo fechado,
No escuro do tempo,
A luz da poesia é como a semente
Que na terra morre e logo apodrece,
E na vida renasce em flores e frutos.
domingo, 19 de janeiro de 2014
MÁRCIO CASTRO DAS MERCÊS - SE UM DIA...
SE UM DIA...
MÁRCIO CASTRO DAS MERCÊS
Se um dia...
Na solidão de teu momento mais tristonho
Sentires teu coração bater mais forte
De saudades...
Lembra-te que não há distância que separe
Aqueles que se amam de verdade
Não o amor dos homens, tão frágil, passageiro...
Mas o amor do espírito...
Imortal...
Eterno...
...
Nada impedirá de estarmos sempre unidos
Por mais que sigamos caminhos diferentes
...
Se um dia...
Tua alma sedenta buscar
No espaço infindo
O eco amigo de uma voz querida,
Pare um momento!...
E ouça!...
...
Sempre haverá o som feliz de uma canção...
A trespassar o tempo... o espaço...
Qual ave mensageira... edênica...
Em seu voo infinito
Rumo à Eternidade...
...
Certamente haverá de ouvir seu canto...
Doce esperança...
ABGAR RENAULT - IGNOTUS
IGNOTUS
ABGAR RENAULT
Eu não sei quem Tu és. Mas sei que Tu existes,
e sei que és Tu que acendes as estrelas lá no Alto,
e o lume, às vezes, da alegria na pobreza dos meus olhos tristes.
Eu não Te vejo, eu não Te falo, senão no silêncio secular
das noites insones e profundas, em que meu corpo se apaga,
e minha alma é uma chama inquieta a crepitar...
Eu Te quero e Te temo, pávido, esquivo e ansioso... E pela vida inteira,
se Te fujo - olhos sem luz para não ver-Te, ouvidos surdos para não Te ouvir sinto-o Teu
esplendor doer na minha tórpida cegueira,
e ouço o rumor augural dos remos do Teu barco, lento e lento
a ferir, com seu ritmo de Absoluto,
a água noturna do meu pensamento...
NEL CÂNDIDO - QUANDO PENSO NO OFÍCIO DO POETA
QUANDO PENSO NO OFÍCIO DO POETA
NEL CÂNDIDO
Quando penso no ofício do poeta,
vêm-me à mente e ao coração um sentimento
que transcende nossa mortal humanidade
e alcança algo eterno e divinal.
É no reino celestial que os versos nascem
e encarnam no papel pelo poeta,
que empresta sua mente e sua mão -
mesmo débeis - ao Poeta-Criador.
E devido à fragilidade humana,
o que no céu foi plasmado se corrompe
e o poema é tênue imagem do divino.
ANTONIO CÍCERO - BALANÇO
BALANÇO
ANTONIO CÍCERO
A infância não foi uma manhã de sol:
demorou vários séculos; e era pífia,
em geral, a companhia. Foi melhor,
em parte, a adolescência, pela delícia
do pressentimento da felicidade
na malícia, na molícia, na poesia,
no orgasmo; e pelos livros e amizades.
Um dia, apaixonado, encarei a minha
morte: e eis que ela não sustentou o olhar
e se esvaiu. Desde então é a morte alheia
que me abate. Tarde aprendi a gozar
a juventude, e já me ronda a suspeita
de que jamais serei plenamente adulto:
antes de sê-lo , serei velho. Que ao menos
os deuses façam felizes e maduros
Marcelo e um ou dois dos meus futuros versos.
ANTONIO MIRANDA - MORTOS-VIVOS
MORTOS-VIVOS
ANTONIO MIRANDA
Se é para fazer a vontade
dos deuses, deixa que ela morra
de câncer, que os filhos morram
sem vacina e injeção.
Se é para fazer a vontade
da deusa Natura,
que se morra de fartura,
morte prematura - no ventre
da terra, sem regadio.
Se é para fazer a vontade
do rei, que se morra na guerra
e se enforque, e se enterrem
vivos os inimigos, e se construam
castelos e fortalezas, e fossos.
Se é para fazer a vontade
do juiz, que se enterrem, castrados,
os pecadores, que morram antes
de pecarem, que morram antes
do nascimento e do sofrimento.
Que se morra de viver
e não haja mais, nesta terra,
quem viva de morrer
- mortos-vivos, natimortos,
vívidos, vividos, tortos, idos.
ASSIS GARRIDO - A FRASE QUE MATOU O OPERÁRIO
A FRASE QUE MATOU O OPERÁRIO
ASSIS GARRIDO
"Não precisamos mais do seu serviço",
Disseram-lhe os patrões, há dois meses e pouco.
E ele se foi , sob o calor abafadiço
Daquela tarde, murmurando como um louco:
"Não precisamos mais do seu serviço".
"Não precisamos mais do seu serviço..."
De tantos anos de trabalho era esse o troco
Que recebia. Em vez de lucro, apenas isso...
E ele consigo murmurava como um louco:
"Não precisamos mais do seu serviço..."
Não precisamos mais do seu serviço..."
Tornou-se bruto e respondia, a praga e a soco,
Aos filhos e à mulher, famintos no cortiço.
E após, chorava murmurando como um louco:
"Não precisamos mais do seu serviço..."
"Não precisamos mais do seu serviço..."
E ele saia a ver emprego, triste e mouco,
Nada! Nenhum!... E cabisbaixo, o olhar mortiço,
Ele voltava, murmurando como um louco:
"Não precisamos mais do seu serviço..."
"Não precisamos mais do seu serviço..."
E cada vez sentia mais o cérebro oco.
Enforcou-se. Morreu. "Foi o diabo ou feitiço..."
E ele morreu murmurando, como um louco:
"Não precisamos mais do seu serviço..."
JOÃO CARLOS TAVEIRA - NAVIO FANTASMA
NAVIO FANTASMA
JOÃO CARLOS TAVEIRA
Brusca, a barca trafega
nas trevas da existência.
Sem trégua, o timoneiro
avança. E, na dormência
de músculos e artérias,
atinge o magma, o centro
do abismo de existir,
fora de si e dentro.
As velas retorcidas,
a que ventos sucumbes,
nos vendavais da dor,
ao gozo e seus vislumbres?
Há tantos sóis e luas
na árdua travessia!
Melhor não fora o porto
que a vida oferecia?
A vida não deságua
em lisos acalantos?
E não floresce a pedra
nas águas de seus prantos?
Ó velas desfraldadas,
de que sonhos se nutrem
a ânsia dos navios,
a fome dos abutres?
VICENTE DE CARVALHO - SONETO ALMA SERENA
SONETO ALMA SERENA
VICENTE DE CARVALHO
Alma serena e casta, que eu persigo
com o meu sonho de amor e de pecado,
abençoado seja, abençoado
o rigor que te salva, e é meu castigo.
Assim desvies sempre do meu lado
os teus olhos; nem ouças o que eu digo;
e assim possa morrer, morrer comigo,
esse amor, criminoso e condenado.
Sê sempre pura! Eu com denodo enjeito
uma ventura obtida com teu dano,
bem meu, que de teus males fosse feito.
Assim penso, assim quero, assim me engano...
Como se não sentisse que , em meu peito
pulsa o covarde coração humano!...
sexta-feira, 17 de janeiro de 2014
FLORBELA ESPANCA - A MAIOR TORTURA
A MAIOR TORTURA
(A um grande poeta de Portugal)
FLORBELA ESPANCA
Na vida, para mim, não há deleite,
Ando a chorar convulsa noite e dia...
E não tenho uma sombra fugidia
Onde poise a cabeça, onde me deite!
E nem flor de lilás tenho que enfeite
A minha atroz, imensa nostalgia!...
A minha pobre Mãe tão branca e fria
Deu-me a beber a Mágoa no seu leite!
Poeta, eu sou um cardo desprezado,
A urze que se pisa sob os pés.
Sou, como tu, um riso desgraçado!
Mas a minha tortura inda é maior:
Não ser poeta assim como tu és
Para gritar num verso a minha Dor!...
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