HÁ ALGO MAIS... UM AMOR. UMA LUZ. - LXXVIII (poema recebido espiritualmente por Wagner Borges - OS XAMÃS DA COLINA SAGRADA) - A água é sagrada! (Mas só a sede ensina isso). - O fogo é sagrado! (Porque representa a Luz). - Os amigos são sagrados! (Mas só a solidão ensina isso). - O corpo é sagrado! (Mas só a doença e a fraqueza física ensinam isso). - A Mãe-Terra é sagrada! (Mas só quem vive sabe disso). - O Amor é sagrado! (Mas só a dor de uma perda ensina isso). - As estrelas são sagradas! (Mas só quem expande a consciência sabe disso). - Manitu* é tudo! (O povo vermelho sempre ensina isso). - A música é sagrada! (É presente do Grande Espírito). - O vento sussurra mensagens sutis... (Mas só quem viaja pelo coração escuta). - Todo homem é sagrado! (Porque é filho do Grande Espírito) - O choro do Xamã é sagrado! (Porque, enquanto ele chora Manitu* lava sua alma). - O sono é sagrado! (Porque é o recreio do espírito, que sai do corpo para voar pelos céus do Grande Espírito). - O trabalho é sagrado! ( Porque a natureza da vida é a atividade). - Nenhum homem é capaz de ver a glória de Manitu*! Para isso, é preciso aquietar a mente e fechar os olhos carnais, para "ver com o próprio espírito"). - A dança dos espíritos é com as estrelas! (É dança de imortalidade e reverência à vida gerada por Manitu*). - A vida é sagrada! (Mas é preciso viver para aprender isso). - Irmãos de jornada se amam e se respeitam! (E nada pode separá-los do Amor de Manitu*). - Quando vêm a chuva, os Xamãs se emocionam e agradecem ao Grande Espírito! (Porque eles sabem que a água é sagrada) - Quando a morte do corpo chega, o Xamã sobe com o vento sutil e vai dançar com os espíritos, por entre as estrelas... (Porque ele sabe que há algo mais... Um amor. Uma luz). - Na imensidão universal só o poder de Manitu* é real! (A sabedoria dos povos nativos sempre ensina isso). - Povos pele-vermelha, pele-negra, pele-branca e pele-amarela... (Todos são povos pele-Luz. Todos são povos pele-Manitu*! Por isso, os Xamãs sempre ensinam que todas as peles são sagradas). - Manitu* só fala aos corações, e diz que há algo mais... (E os espíritos e os Xamãs compreendem que é um Amor e uma Luz).
* Manitu - designação que os índios algonquinos, dos EUA, dão a uma força mágica não personificada, mas inerente a todas as coisas, pessoas, fenômenos naturais e atividades. Ou seja, o Grande Espírito.
CONCERTO P/ FLAUTA E COPOS DE CRISTAL ANTONIO BRASILEIRO Passarei minha vida olhando aquela montanha, a esperar que ela se mova. Não se moverá, tenho certeza, mas passarei minha vida diante dela.
Quando eu for pequeno, mãe, quero ouvir de novo a tua voz na campânula de som dos meus dias inquietos, apressados, fustigados pelo medo. Subirás comigo as ruas íngremes com a certeza dócil de que só o empedrado e o cansaço da subida me entregarão ao sossego do sono. Quando eu for pequeno, mãe, os teus olhos voltarão a ver nem que seja o fio do destino desenhado por uma estrela cadente no cetim azul das tardes sobre a baía dos veleiros imaginados. Quando eu for pequeno, mãe, nenhum de nós falará da morte, a não ser para confirmarmos que ela só vem quando a chamamos e que os animais fazem um círculo para sabermos de antemão que vai chegar. Quando eu for pequeno, mãe, trarei as papoilas e os búzios para a tua mesa de tricotar encontros, e então ficaremos debaixo de um alpendre a ouvir uma banda a tocar enquanto o pai ao longe nos acena, lenço na mão com as iniciais bordadas, anunciando que vai voltar porque eu sou pequeno e a orfandade até nos olhos deixa marcas.
O ESPELHO MIA COUTO Esse que em mim envelhece assomou ao espelho a tentar mostrar que sou eu. Os outros de mim, fingindo desconhecer a imagem, deixaram-me a sós, perplexo, com meu súbito reflexo. A idade é isto: o peso da luz com que nos vemos.
SONETO DO DESMANTELO AZUL CARLOS PENA FILHO Então, pintei de azul os meus sapatos por não poder de azul pintar as ruas, depois, vesti meus gestos insensatos e colori as minhas mãos e as tuas. Para extinguir em nós o azul ausente e aprisionar no azul as coisas gratas, enfim, nós derramamos simplesmente azul sobre os vestidos e as gravatas. E afogados em nós, nem nos lembramos que no excesso que havia em nosso espaço pudesse haver de azul também cansaço. E perdido de azul nos contemplamos e vimos que entre nós nascia um sul vertiginosamente azul. Azul.
ANJO WAGNER BORGES Anjo amigo, sei que tu estás aqui, pois o teu amor é imenso. Sei que o teu movimento não é demarcado pelo horário humano, pois a todo momento tu estás ajudando alguém. Sei que tu não és atraído pelas preces, mas sim pelo amor que mora no coração das pessoas. Sei que o teu trabalho invisível não é para aumentar a devoção e o misticismo de ninguém, mas para aumentar a compaixão das pessoas. Sei que tu viajas comigo nas notas musicais sutis e me inspiras a fazer o Bem. Sei que não posso te escutar pelos ouvidos, mas sei te perceber na intuição do coração. Sei que tu não és o "meu anjo", pois nada me pertence e a palavra "meu" é muito egoísta. Sei que tu não tens asas, pois a gravidade terrestre não te afeta. Sei que tu não é branco, negro, moreno, amarelo ou vermelho, pois o teu corpo espiritual é luz pura. Sei que tu me conheces profundamente há muitas vidas e sabes do que eu preciso para crescer. Por isso, não te peço nada e agradeço o teu carinho e proteção. Sei que a tua função real não é consolar, mas sim esclarecer e ampliar o potencial criativo das pessoas. Não sei o teu nome (e nem me interessa), mas te reconheço pelo amor que sinto brotar na flor de lótus do meu coração. Anjo amigo, palavras não te definem, mas há uma coisa que o meu coração quer te dizer: "OBRIGADO, QUERIDO!"
CADERNOS DE POESIA EGITO GONÇALVES Difícil é esperar quando nada sabemos nada haver a esperar. O eco de uma lágrima não basta para dar vento a sementeira.
O OFÍCIO ANTONIO BRASILEIRO No fim dos tempos, vou estar numa casinha de palha, uns livros, um lápis, papel almaço, a alma pura e uns rabiscos pra ninguém ler, só me confessar. Ao deus dentro de mim, primeiramente. E a quem não interessar possa.
RELÓGIO DE PONTO ALBERTO DA CUNHA MELO Tudo que levamos a sério torna-se amargo. Assim os jogos, a poesia, todos os pássaros, mais do que tudo: todo o amor. De quando em quando faltaremos a algum compromisso na Terra, e atravessaremos os córregos cheios de areia, após as chuvas. Se alguma súbita alegria retardar o nosso regresso, um inesperado companheiro marcará nosso cartão. Tudo que levamos a sério torna-se amargo. Assim as faixas da vitória, a própria vitória, mais do que tudo: o próprio Céu. De quando em quando faltaremos a algum compromisso na Terra, e lavaremos as pupilas cegas com o verniz das estrelas.
ETERNA CRUZ CASEMIRO CUNHA (Psicografia de Francisco Cândido Xavier) Sobre as lutas da Terra, o Mestre se debruça E exclama, olhos no céu, amargurado e aflito: - "Há milênios, meu Pai, que choro no infinito, Presa aos braços da cruz, minh'alma que soluça..." Depois, fitando a Terra, eis que o Mestre inda exclama: - "Amai-vos, meus irmãos! Somente o amor ensina A encontrar a verdade e a luz pura e divina; Em verdade, é feliz somente aquele que ama!..." Em vão, porém, Jesus grita ao mundo a verdade, No mar da indiferença, a cega humanidade Não procura a verdade e nem deseja a luz. Caim devora Abel no caminho escabroso! Sempre a sede carnal de prazer e de gozo, E o Mestre continua, em lágrimas, na cruz...
A GUERRA NEL CÂNDIDO A guerra... sempre estúpida é a guerra, de todas a mais bestial ação que o homem realiza em sua história. Em nome de falácias bem armadas, o homem digladia-se com o homem e nunca há vencido ou vencedor, pois na guerra todos têm as suas perdas... e perde-se primeiro a humanidade.
O CINAMOMO FLORESCE... ALPHONSUS DE GUIMARAENS O cinamomo floresce Em frente do teu postigo: Cada flor murcha que desce Morre de sonhar contigo. E as folhas verdes que vejo Caídas por sobre o solo, Chamadas pelo teu beijo Vão procurar o teu colo. Ai! Senhora, se eu pudesse Ser o cinamomo antigo Que em flores roxas floresce Em frente do teu postigo: Verias talvez, ai! como São tristes em noite calma As flores do cinamomo De que está cheia a minh'alma!
ILHA DAVID MOURÃO-FERREIRA Deitada és uma ilha E raramente surgem ilhas no mar tão alongadas com tão prometedoras enseadas um só bosque no meio florescente promontórios a pique e de repente na luz de duas gêmeas madrugadas o fulgor das colinas acordadas o pasmo da planície adolescente Deitada és uma ilha Que percorro descobrindo-lhe as zonas mais sombrias Mas nem sabes se grito por socorro ou se te mostro só que me inebrias Amiga amor amante amada eu morro da vida que me dás todos os dias
SERRA DA BOA ESPERANÇA LAMARTINE BABO Serra da Boa Esperança, esperança que encerra No coração do Brasil um punhado de terra No coração de quem vai, no coração de quem vem Serra da Boa Esperança meu último bem Parto levando saudades, saudades deixando Murchas caídas na serra lá perto de Deus Oh, minha serra, eis a hora do adeus vou-me embora Deixo a luz do olhar no teu luar Adeus Levo na minha cantiga a imagem da serra Sei que Jesus não castiga um poeta que erra Nós, os poetas, erramos, porque rimamos também Os nossos olhos nos olhos de alguém que não vem Serra da Boa Esperança, não tenhas receio Hei de guardar tua imagem com a graça de Deus Oh, minha serra, eis a hora do adeus, vou-me embora Deixo a luz do olhar no teu luar Adeus CANTA: NOITE ILUSTRADA
Fui pastor de cabras e de rios secos rezei pelas vacas que morreram de sede e os bezerros que ficaram órfãos e foram alimentados com o leite dos pássaros. Rezei pelas vértebras da paisagem pelo sangue das pedras pelas árvores e seus esqueletos de faraós, pelas portas fechadas das casas onde a lua dialoga com os mortos. Rezei em memória do vento que à noite pastoreia as lavouras soterradas de meu pai. Rezei pelos seios da terra pelo aniquilamento dos pássaros pela volta da chuva e a diáspora das borboletas. Rezei pelos náufragos do amor do tempo e da eternidade. Rezei pelos espantalhos de braços abertos rezei pelos afogados daquele rio que não seca nunca.
ELEGIA 1938 CARLOS DRUMOND DE ANDRADE Trabalhas sem alegria para um mundo caduco, onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo. Praticas laboriosamente os gestos universais, sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual. Heróis enchem os parques da cidade em que te arrastas, preconizam a virtude, a renúncia, o sangue-frio, a concepção. À noite, se neblina, abrem guardas chuvas de bronze ou se recolhem aos volumes de sinistras bibliotecas. Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer. Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras. Caminhas entre mortos e com eles conversas sobre coisas do tempo futuro e negócios do espírito. A literatura estragou tuas melhores horas de amor. Ao telefone perdeste muito, muitíssimo tempo de semear. Coração orgulhoso, tens pressa de confessar tua derrota e adiar para outro século a felicidade coletiva. Aceitas a chuva, a guerra, o desemprego e a injusta distribuição porque não podes, sozinho, dinamitar a ilha de Manhattan.
ALMA EM DESESPERO OLEGÁRIO MARIANO Como viver assim de alma despedaçada, Quando lá fora há sol e há festa e há primavera? Meu amor deu-me tudo e hoje não tenho nada, Ele próprio tirou tudo quanto me dera. Se a existência passei chorando à sua espera Ele veio e me trouxe às mãos, numa braçada De rosas, a mulher que era sonho e quimera, E ilusão e perfume e estrela e madrugada. E agora que fazer nesta vida sem ela? Debater-me de desatino em desatino, Minh'alma transmudar numa folha amarela E atirá-la no espaço, aloucada e erradia Para vê-la seguir o seu próprio destino No doido rodopiar da asa da ventania...
ENCONTREI-TE. ERA O MÊS... ALPHONSUS DE GUIMARAENS Encontrei-te. Era o mês... Que importa o mês? Agosto, Setembro, outubro, maio, abril, janeiro ou março, Brilhasse o luar que importa?ou fosse o sol já posto, No teu olhar todo o meu sonho andava esparso. Que saudades de amor na aurora do teu rosto! Que horizonte de fé, no olhar tranquilo e garço! Nunca mais me lembrei se era no mês de agosto, Setembro, outubro, abril, maio, janeiro ou março. Encontrei-te. Depois... depois tudo se some Desfaz-se o teu olhar em nuvens de ouro e poeira. Era o dia... Que importa o dia, um simples nome? Ou sábado sem luz, domingo sem conforto, Segunda, terça ou quarta, ou quinta ou sexta-feira, Brilhasse o sol, que importa? ou fosse o luar já morto?
A EMENDA & O SONETO ANTONIO BRASILEIRO 1. O soneto Em meio a temporais, saibamos ser a haste pequenina que se verga. Pois uma coisa é certa: tudo acaba. E o céu ficará limpo como era. 2. A emenda Em meio a temporais, saibamos ser a haste pequenina que se verga. Pois uma coisa é certa: tudo acaba. Não só acaba como não acaba.
DÁDIVA DIVINA CASTRO REIS Como é grande o valor da Natureza E tudo quanto a Mão de Deus criou... O mais pequeno ser, nos dá certeza Da grandeza divina que o moldou!... Obra de maravilha e de Beleza, Grande foi o Amor que a inspirou... Toda da Obra de Deus é chama acesa Que a Natureza Mãe, eternizou!... E dessa Obra-prima, de esplendores: Nasceram rios, árvores e flores, Aves, astros e coisas divinais!... Mas de tanta grandeza concebida Com que deus quis dar vida à própria Vida: - Ter nascido Poeta, é muito mais!
FLORES Poema recebido espiritualmente por Wagner Borges - CIA DO AMOR (A TURMA DOS POETAS EM FLOR)
Ah, as flores como são belas! São pequenos chacras da natureza, Botões em cores, criaturinhas cheias de beleza. Alguém magoado pode dizer: - Como se pode falar de flores num planeta tão cheio de dores? Ao que nós, poetas inveterados, retrucamos: - Como é que se pode falar de dores num planeta tão cheio de flores? E isso sem falar nos amores, que apartam as dores. Pois é, meus amigos, falamos de flores com vocês, esperando que vocês sejam Bonitas flores espirituais no jardim da vida. Que Deus lhes abençoe e os torne poetas na próxima vida.
SABEDORIA JOSÉ RÉGIO Desde que tudo me cansa, Comecei eu a viver. Comecei a viver sem esperança... E venha a morte quando Deus quiser. Dantes, ou muito ou pouco, Sempre esperava: Às vezes, tanto, que o meu sonho louco Voava das estrelas à mais rara; Outras, tão pouco, Que ninguém mais com tal se conformara. Hoje, é que nada espero. Para quê, esperar? Sei que já nada é meu senão se o não tiver; Se quero, é só enquanto apenas quero; Só de longe, e secreto, é que inda posso amar... E venha a morte quando Deus quiser. Mas, com isto, que têm as estrelas? Continuam brilhando, altas e belas.
GLÓRIA MORTA DANTE MILANO Tanto rumor de falsa glória, Só o silêncio é musical, Só o silêncio, A grave solidão individual, O exílio em si mesmo, O sonho que não está em parte alguma. De tão lúcido, sinto-me irreal.
DESTINO MIA COUTO à ternura pouca me vou acostumando enquanto me adio servente de danos e enganos
vou perdendo morada na súbita lentidão de um destino que me vai sendo escasso conheço a minha morte seu lugar esquivo seu acontecer disperso agora que mais me poderei vencer?
CONTEMPORIZAR AIDENOR AIRES Não sei por que não me acostumo ao morrer cotidiano das coisas. Vivo num tempo de morte e as caras me assombram como túmulos. O poeta nasceu para as grandes resignações ou para os grandes desesperos. Não há omissão na poesia. Há de haver sempre tempo para a resignação e tempo para a revolta. Há os que sonham jardins sobre as cinzas, há os que geram cinzas sobre as flores... Meu tempo é só de cinzas, Um animal enorme devorou as flores.