segunda-feira, 24 de novembro de 2014
ANTONIO MIRANDA - TUAS ROUPAS
TUAS ROUPAS
ANTONIO MIRANDA
Tuas roupas no meu guarda-roupa têm mais
intimidade do que os
nossos corpos na cama.
Uma certa fricção ou fruição macia e fria
de corpos prostrados
um roce, uma prega
do tira e põe do cabide.
Lado a lado são vestes nuas, tuas, cruas
com vestígios de
felicidade.
Talvez por contágio proximidade
sofreguidão, ressábio
presságio e ausência.
Roupas despidas de ti vazias, contidas
guardando as formas
de tua liberdade.
Um certo fetichismo de abandono
resquícios de suor
e perfume, dobras
quem sabe manchas.
Visito tuas roupas com as narinas
com os dedos solitários.
Superfícies aveludadas amarfanhadas, repassadas
revisitadas
meias e ceroulas
misturadas com sutiãs
e gravatas na gaveta
alicates, dedais
preservativos
em estado de inação
e promiscuidade.
Uma carência de botões bolsos, beiradas
desejos encardidos preteridos
postergados.
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