segunda-feira, 1 de julho de 2013

JOSÉ MARIA ALVES - EU TAMBÉM TIVE UMA CABRINHA




EU TAMBÉM TIVE UMA CABRINHA

JOSÉ MARIA ALVES

Eu também tive uma cabrinha, 
Só que não era minha. 
Cabras não são de ninguém: não há posse, 
Não há domínio. 
A propriedade é uma violência, minha, tua, 
D´alguém. 
Quem quer ou deseja o presídio, as correntes, 
Os muros da prisão? 
A cerca, que lhe tapem a visão? 
Saltava nas pedras e as pedras não eram dela, 
Bebia nos riachos, pastava nos lameiros de João Rancheiro, 
Comia-lhe os cachos maduros, 
Furtava a panela com a janta dos cães 
Aos pinotes de patas no ar. 
Não queria nada para além do momento, 
Por isso, era dona de tachos, latas, terras, do casario, 
Lamentos, 
E até de mim.

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