terça-feira, 2 de julho de 2013

CARLOS DRUMOND DE ANDRADE - DESTRUIÇÃO


DESTRUIÇÃO

CARLOS DRUMOND DE ANDRADE

Os amantes se amam cruelmente
e com se amarem tanto não se vêem.
Um se beija no outro, refletido.
Dois amantes que são? Dois inimigos.

Amantes são meninos estragados
pelo mimo de amar e não percebem
quanto se pulverizam no enlaçar-se,
e como o que era mundo volve a nada.

Nada. Ninguém. Amor, puro fantasma
que os passeia de leve, assim a cobra
se imprime na lembrança de seu trilho.

E eles quedam mordidos para sempre;
deixaram de existir, mas o existido
continua a doer eternamente.

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