segunda-feira, 24 de junho de 2013
HEITOR LIMA - RENÚNCIA
RENÚNCIA
HEITOR LIMA
Fugir, deixando um bem que o braço já tocava
Pela incerteza atroz de uma fé que redime...
Fugir para ser livre, e sentir, na alma escrava,
A sujeição fatal de uma paixão sublime.
Fugir, e, surdo à voz da consciência, que oprime,
Opor diques de gelo a torrentes de lavas,
Sentindo, na renúncia, o alvoroço de um crime
Que a ingratidão aumenta e a covardia agrava.
Fugir, tão perto já da enseada, vendo, ao fundo,
Gaivotas esvoaçando entre velas e mastros,
Na glorificação triunfal do sol fecundo.
Fugir do amor - fugir do céu, fugir de rastros,
Sufocando um clamor que abalaria o mundo
E abafando um clarão que incendiaria os astros.
ANTERO ABREU - LIBERTAÇÃO
LIBERTAÇÃO
ANTERO ABREU
das mentiras loucas que me envolvem
vou quebrando os liames um a um
e das angústias da libertação
nascerá um dia a paz
do ser e do não ser.
das mentiras vãs que me amordaçam
os véus arrancarei a um e um
tristes despojos dum passado velho
que em mim se quis perpetuar.
e deixarei um rasto de desilusões,
um caminho de lágrimas choradas;
mas ficarei seguro e afirmado
com a serenidade dum buda na floresta
com a nudez dum Cristo no redil.
DOIS MOMENTOS EXTRAORDINÁRIOS NA MÚSICA - LUCIANO PAVAROTTI E STEVIE WONDER & ANDREA BOCELLI E SARAH BRIGHTMAN
DOIS MOMENTOS EXTRAORDINÁRIOS NA MÚSICA - PURA POESIA
LUCIANO PAVAROTTI E STEVIE WONDER
Sweet woman child needn't cry anymore
Now we all know what you've long known before
Sad that it took all one's lifetime to see
Peace wanted just to be free
Strong man shall open your armor of fear
Your dreams of love is what brought this day here
Evil is lost and hate has decease, joy is of what we feast
For life can now live in world peace
dormi piccino la guerra e finita
l'acqua ed il vento saranno con te
e poi cresci piccino nell' Africa unita
dormi che noi siamo qui
dormi noi siamo con te
ritorneranno le danze e i colori
contiueranno per sempre con te
ritroveremo profumi e i sapori
piccolo amore
per ogni stella che cade nel cielo
un nuovo amore fiorisce laggiu
bimbi che corrono e giocano i pace
e che non piangono piu
e che non piangono piu
Sweet woman child needn't cry anymore
Now we all know what you've long known before
Sad that it took a world's lifetime to see
Peace wanted just to be free, peace wanted just to be free
Soldiers have put down their weapons of war
Never to touch them again
All through the love you can hear people say
Where fighting has come to an end
dormi piccino dell' Africa nuova
armi e i soldati non urlano piu
sogna la notte di luci stellate
dormi noi siamo con te
dormi che noi siamo qui
dormi noi siamo con te
TIME TO SAY GOOD BYE (CON TE PARTIRÒ)
ANDREA BOCELLI E SARAH BRIGHTMAN
Quando sono solo
sogno all’orizzonte
e mancan le parole,
Si lo so che non c’è luce
in una stanza quando manca il sole,
se non ci sei tu con me, con me.
Su le finestre
mostra a tutti il mio cuore
the hai acceso,
chiudi dentro me
la luce che
hai incontrato per strada.
Time to say goodbye.
Paesi che non ho mai
veduto e vissuto con te,
adesso si li vivrò,
Con te partirò
su navi per mari
che, io lo so,
no, no, non esistono più.
It’s time to say goodbye…
Quando sei lontana
sogno all’orizzonte
e mancan le parole,
e io sì lo so
che sei con me,
tu mia luna tu sei qui con me,
mio sole tu sei qui con me,
con me, con me, con me.
Time to say goodbye.
Paesi che non ho mai
veduto e vissuto con te,
adesso si li vivrò.
Con te partirò
su navi per mari
che, io lo so,
no, no, non esistono più,
con te io li rivivrò.
Con te partirò
su navi per mari
che, io lo so,
no, no, non esistono più,
con te io li rivivrò.
Con te partirò.
Io con te.
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domingo, 23 de junho de 2013
BRÁULIO DE ABREU - SEMEADOR
SEMEADOR
BRÁULIO DE ABREU
Busca semear, na vida, o próspero e fecundo
Grão do teu sentimento. E verás, algum dia,
A árvore produzir, para a glória do mundo,
Flores e frutos bons, de humildade e alegria.
Vela o sono fugaz do infeliz moribundo,
E esquece a própria dor que tanto te angustia,
Porque o alheio mal é maior, mais profundo,
E o teu destino é encher a mão que está vazia.
Pede a Deus, que te vê da pupila dos astros,
Pelos que vivem sós, pelo destino incerto
Desses que vão e vêm, onde há velas e mastros.
E nunca, em toda a vida, o desamor te vença
Teu dever é florir o mais bruto deserto,
Sem, ao menos, pensar na menor recompensa.
MARCELO GAMA - CHUVA DE ESTRELAS
CHUVA DE ESTRELAS
MARCELO GAMA
Li uma vez em páginas antigas
que, se uma estrela cai do céu clemente,
concede tudo o que lhe pede a gente.
Como as estrelas são nossas amigas!
Por isso agora, insone e sem fadigas,
fito os céus toda a noite atentamente.
Chovem estrelas... E eu: - Astro fulgente,
quero que eterno o nosso amor predigas!
- Faze-me bom! Conserva-lhe a doçura!
- Estrela, dá-nos paz, serenidade!
- Que a nossa filha seja linda e pura!
Doiradas ambições! Como dizê-las,
se elas são tantas? Deus, por piedade,
manda que caiam todas as estrelas!
sexta-feira, 21 de junho de 2013
JOSÉ MARIA ALVES - NAVEGUEI POR MARES E OCEANOS
NAVEGUEI POR MARES E OCEANOS
JOSÉ MARIA ALVES
Naveguei por mares e oceanos
Adormeci embalado pelas calmarias
Mas foi na tormenta
Que me conheci.
Não me enfureci com o vento.
Não odiei a espuma branca
Das vagas desfeitas,
Nem delas me evadi.
Capeei e ajustei as velas.
PAULO BONFIM - PASTOR JÁ FUI DESSE REBANHO ALADO
PASTOR JÁ FUI DESSE REBANHO ALADO
PAULO BONFIM
Pastor já fui desse rebanho alado,
Que pelos céus caminha, pensativo,
A ruminar a grama azul do prado
E a desmanchar-se em pensamento vivo.
Pastor já fui de olhar perdido e calmo,
Guardando as reses pelo campo etéreo.
Entoei sobre a campina cada salmo
De um livro que perdi sobre o mistério.
Já fui pastor fora de certo espaço,
Das loucas dimensões em que me banho,
Não sei se é no futuro em que me abraço
Ou no passado desse meu rebanho!
Pastor já fui, hoje arrebanho a mágoa
Do meu rebanho a desfazer-se em água.
ANTONIO MIRANDA - SAUDADES DO FUTURO
SAUDADES DO FUTURO
ANTONIO MIRANDA
( Para Hilda Lontra)
Tanto quis fazer
e me contive.
Tanto quis ser.
Imaginei-me tantas vezes
onde nunca estive.
Em menino, era adulto
sem poder
para ocupar espaços
que se me negavam.
Amores!
Desejei a quantos
e amei a tantos
sem tê-los
(conquantos, portantos)
por contradizê-los
- eu bem sei.
Temores!
Preferia o impossível.
Projetei-me em situações
que logo preteria
por não satisfazer-me.
Insaciável
pelo não vivido
e almejado
frustrado pelo que sentia
ao ter o que havia
superado.
Vivi antecipadamente
o não acontecido
e relevei
tantas vezes
descuidadamente
o que sentia.
Era feliz
e não sabia
- diz o chavão
que eu não cria
porque - então -
para mim
a felicidade
era sempre futura
em minha
( postiça intelectual)
amargura.
WALMIR AYALA - A MINHA MORTE SÃO AS COISAS
A MINHA MORTE SÃO AS COISAS
WALMIR AYALA
A minha morte são as coisas
e não poder retê-las,
é a matéria que existe
e resiste
à minha sorte,
como as estrelas.
A minha morte é a manhã
que se estende claríssima
sem temor, é este amor
de só desesperança,
como um clamor.
A minha morte é esta voz
por que a garganta anseia
e não sabe,
ela cabe
inteira nos meus olhos
que a lágrima incendeia.
Sobretudo é
esta vontade
de chorar e ir chorando
como uma única pergunta
sem remédio:
- até quando?
J. G. DE ARAÚJO JORGE - CONFISSÃO INICIAL
CONFISSÃO INICIAL
J. G. DE ARAÚJO
Às vezes, tenho a impressão
de que não devia publicar estas palavras
nascidas para viverem em surdina
ao teu ouvido.
Às vezes penso que deveria deixar no limbo
do coração
estas palavras de ti e para ti
e que tomaram imprevistamente a forma de canção.
Estas palavras que te colhem toda
e te deixam nua,
e me dão a impressão de que também
tenho nu o coração, em plena rua.
MARIA JOSÉ ARANHA DE REZENDE - A UM INDIFERENTE
A UM INDIFERENTE
MARIA JOSÉ ARANHA DE REZENDE
Nesses teus olhos vagos, distraídos,
nesse teu ar distante, indiferente,
nessa apatia assim dos teus sentidos
que parecem dormir profundamente;
Nessa frieza com que que os teus ouvidos
ouvem o grito deste amor ardente,
nesses teus braços calmos, desprendidos
que nunca me cingiram ternamente;
Nessa ausência completa de desejo,
nessa boca que foge do meu beijo
é que reside o meu maior encanto.
Se o teu amor ao meu amor viesse,
se essa felicidade eu conhecesse
talvez... talvez não te quisesse tanto!
JOSÉ MARIA ALVES - A POMBA
A POMBA
JOSÉ MARIA ALVES
A bomba poisou no muro -
Olhou-me,
Sorriu
E partiu.
OLEGÁRIO MARIANO - ESPERA INÚTIL
ESPERA INÚTIL
OLEGÁRIO MARIANO
Esperei-te toda a noite
Em crescente exaltação:
Os meus braços te acenavam,
Os meus lábios te chamavam,
E enquanto esperava, em vão,
Os ramos garatujavam
Ao luar, teu nome no chão.
Quando veio a madrugada,
Eu tinha a face molhada...
Era de orvalho? Não sei.
Se a água do orvalho é salgada,
Foi engano. Eu não chorei.
GEIR CAMPOS - BUCÓLICA
BUCÓLICA
GEIR CAMPOS
Hoje meu coração é como um boi manso,
em decalcomania sobre a paisagem.
Pelo vício, talvez, rumina o capim
duma esperança há poucas horas extinta
e que lhe cai da boca em pingos de tinta
- verde a princípio, quase branca no fim.
A antiga agilidade estroina e selvagem
morreu: parado assim, no esquema rural,
ele parece à espera só dum sinal
que o devolva às origens do seu descanso.
sábado, 8 de junho de 2013
JOSÉ ALBANO - SONETO
SONETO
JOSÉ ALBANO
Poeta fui e do áspero destino
Senti bem cedo a mão pesada e dura.
Conheci mais tristeza que ventura
E sempre andei errante e peregrino.
Vivi sujeito ao doce desatino
Que tanto engana, mas tão pouco dura;
E inda choro o rigor da sorte escura,
Se nas dores passadas imagino.
Porém, como me agora vejo isento
Dos sonhos que sonhava noite e dia,
E só com saudades me atormento;
Entendo que não tive outra alegria
Nem nunca outro qualquer contentamento
Senão de ter cantado o que sofria.
BELMIRO BRAGA - OLHANDO O RIO
OLHANDO O RIO
BELMIRO BRAGA
( A Alencar Duarte)
Nas noites claras de luar, costumo
ir das águas ouvir o vão lamento;
e, após o ouvi-las, cauteloso e atento
que o rio também sofre, eis que presumo.
Nesse que leva tortuoso rumo,
que fado triste e por demais cruento:
Vai deslizando agora doce e lento
e agora desce encachoeirado e a prumo.
O dorso aqui lhe encrespa leve brisa,
ali o deslizar calhau lhe veda;
além, de novo, sem fragor, desliza...
És como o rio, coração tristonho:
Se ele vive a chorar de queda em queda,
vives tu a gemer de sonho em sonho.
CASTRO REIS - O INVERNO DA VIDA
O INVERNO DA VIDA
CASTRO REIS
É por dentro de mim que peregrino,
Nesta hora de angústia e de amargor!...
Pois já venho sofrendo, de menino,
Maus invernos, de morte e de rigor!
Deus quer que eu cumpra assim o meu destino
De Poeta e Mendigo do Amor!...
Quem nasceu para os rumos do Divino,
Terá que ser eterno sofredor!
Depois de tanto inverno e tempestade,
Do que fui, vejo assim tombar a árvore,
Só me restando a compaixão de Deus!
Quando chegar a hora do meu fim,
Não importa se lembrem mais de mim,
- Mas não deixem morrer os versos meus!
sexta-feira, 7 de junho de 2013
ADELINO FONTOURA - FRUTO PROIBIDO
FRUTO PROIBIDO
ADELINO FONTOURA
Escravo dessa angélica meiguice
por uma lei fatal, como um castigo,
não abrigara tanta dor comigo,
se este afeto que sinto não sentisse.
Que te não doa, entanto, isto que digo
nem as magoadas falas que te disse.
Não tas dissera nunca, se não visse
que por dizê-las minha dor mitigo
Longe de ti, sereno e resoluto,
irei morrer, misérrimo, esquecido,
mas hei de amar-te sempre, anjo impoluto.
És para mim o fruto proibido:
não pousarei meus lábios nesse fruto;
mas morrerei sem nunca ter vivido.
FLORBELA ESPANCA - LÁGRIMAS OCULTAS
LÁGRIMAS OCULTAS
FLORBELA ESPANCA
Se me ponho a cismar em outras eras
Em que ri e cantei, em que era querida,
Parece-me que foi noutras esferas,
Parece-me que foi numa outra vida...
E a minha triste boca dolorida,
Que dantes tinha o rir das primaveras,
Esbate as linhas graves e severas
E cai num abandono de esquecida!
E fico, pensativa, olhando o vago...
Toma a brandura plácida dum lago
O meu rosto de monja de marfim...
E as lágrimas que choro, branca e calma,
Ninguém as vê brotar dentro da alma!
Ninguém as vê cair dentro de mim!
NEL CÂNDIDO - ALGUÉM EU ENCONTREI QUE COMO EU
ALGUÉM EU ENCONTREI QUE COMO EU
NEL CÂNDIDO
Alguém eu encontrei que, como eu,
Há pouco seu amor havia perdido.
O meu, perdi-o, jovem, para a morte,
E, ele, no entanto, para a vida.
Não sei qual perda foi mais dolorosa
Pois meu amor jamais eu o veria
E o seu, ele poderia encontrar
Numa esquina qualquer de seu caminho.
Entretanto, em seu coração ferido,
O amor que ele lhe tinha pereceu.
O meu, mesmo na morte, inda vive,
Eterno, enquanto vida houver em mim.
BERNARDO DE PASSOS - SAUDADES
SAUDADES
BERNARDO DE PASSOS
Saudades de amor, são penas
Que nascem do coração...
E como as penas das aves,
Quantas mais, mais brandas são!
Meu coração fez um ninho
Como o das aves perfeito,
Juntando todas as penas
De que ele me encheu o peito...
E nesse ninho, a sonhar
Dorme, assim, horas serenas,
Como dorme um passarinho
Sobre o seu ninho de penas.
quinta-feira, 6 de junho de 2013
APELO
APELO
VINICIUS DE MORAES
Ah, meu amor não vás embora
Vê a vida como chora, vê que triste esta canção
Não, eu te peço, não te ausentes
Pois a dor que agora sentes, só se esquece no perdão
Ah, minha amada me perdoa
Pois embora ainda te doa a tristeza que causei
Eu te suplico não destruas tantas coisas que são tuas
Por um mal que eu já paguei
Ah, minha amada, se soubesses
Da tristeza que há nas preces
Que a chorar te faço eu
Se tu soubesses num momento todo arrependimento
Como tudo entristeceu
Se tu soubesses como é triste
Perceber que tu partiste
Sem sequer dizer adeus
Ah, meu amor tu voltarias
E de novo cairias
A chorar nos braços meus
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