sábado, 30 de março de 2013
OLEGÁRIO MARIANO - NOTURNO
NOTURNO
OLEGÁRIO MARIANO
O crepúculo entrou de sala adentro... Ainda
O primeiro Noturno extasiava o teclado...
Como aos meus olhos tu ficaste linda!
Em sangue o lábio, o corpo iluminado,
Meu grande e humano lírio do Passado!
Na luz que em torno abria uma sombra velada,
Teu gesto era mais triste e era mais brando.
Vinha de ti o olor de uma rosa fanada...
E o teu olhar que está quase sempre chorando,
Pela sala espalhava uma poeira doirada...
O tempo que mais dói é o que a gente recorda
Num perfume, num som, num gesto ou num sorriso.
Vaga recordação que nos lábios acorda
Toda a volúpia cruel de um passado indeciso,
Onde houve um inferno a arder dentro de um paraíso.
Toda uma história. Um quase nada. O cheiro
De um lenço, um verso que a alma nos traspassa.
Depois, o grande beijo derradeiro.
E o incêndio passa como tudo passa...
Mas fica sempre a cinza no braseiro.
Cinza. Saudade imensa que não finda,
Do que fui, do que foste, ideal sonhado!
Vejo-te cada vez mais triste e linda
E eu cada vez mais triste e desgraçado,
Mais desgraçado porque te amo ainda.
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