sexta-feira, 1 de março de 2013

J. G. DE ARAÚJO JORGE - CONVALESCENÇA




CONVALESCENÇA

J. G. DE ARAÚJO JORGE

Toda vez que escrevo convalesço, estou nascendo
outra vez dentro de mim.

Convalescença,
de uma longa enfermidade em que fiquei paralítico
dentro de mim mesmo.

E de repente, posso andar, posso sair, - que misterioso médico - 
indicou-me a liberdade e reconciliou-me com a claridade da manhã
e os caminhos que são sinuosos convites acenando?

Estou descendo invisíveis degraus de uma branca escadaria
que dá para um grande parque onde as árvores e os homens dialogam
e brincam como crianças,
e fazem roda em torno das heras de velhos poetas
escondendo faunos
nas pupilas de bronze.

A criação é uma convalescença, uma janela de hospital que se abre,
dois braços que respiram abarcando o espaço
e dois olhos que começam a cantar como os pássaros.

Estes cantos são apenas o ritmo elementar da respiração desopressa
o latejar do sangue nas veias, que arremeda
as águas que estão rolando em algum lugar do mistério.

Fora da arte e da poesia
a vida é uma longa enfermidade, um tédio branco
de hospital, sem esperança.

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