terça-feira, 12 de março de 2013
JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS - A FLOR
A FLOR
JOSÉ DE ALMADA NEGREIROS
Pede-se a uma criança: Desenhe uma flor! Dá-se-lhe papel e lápis.
A criança vai sentar-se no outro canto da sala
onde não há mais ninguém.
Passado algum tempo o papel está cheio de linhas.
Umas numa direção, outras noutras; umas mais carregadas,
outras mais leves; umas mais fáceis, outras mais custosas.
A criança quis tanta força em certas linhas
que o papel quase não resistiu.
Outras eram tão delicadas que apenas o peso do lápis já era demais.
Depois a criança vem mostrar essas linhas às pessoas: uma flor!
As pessoas não acham parecidas estas linhas com as de uma flor!
Contudo, a palavra flor andou por dentro da criança,
da cabeça para o coração e do coração para a cabeça,
à procura das linhas com que se faz uma flor,
e a criança pôs no papel algumas dessas linhas, ou todas.
Talvez as tivesse posto fora dos seus lugares,
mas são aquelas as linhas com que Deus faz uma flor.
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