quarta-feira, 19 de março de 2014

JOÃO MELO - PENÉLOPE NO TREM


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PENÉLOPE NO TREM

JOÃO MELO

no trem entre queluz e lisboa
uma mulher tricota. a malha ou
os seus pensamentos? uma sombra opaca
reluz no seu olhar absorto.

(o que irá brotar
das mãos dessa mulher
- como a explosão de uma flor?)

amorosamente ou
com silencioso ódio,
ela modela uma qualquer criatura,
que ao poeta é interdito adivinhar.

(que obrigações
a atormentam?
que esperança cega
a faz ainda resistir?)

todas as noites, neste trem suburbano,
esta mulher tricota os próprios dedos,
macerados por tantos dias
sem despertarem paixões.

(e em casa não a espera ulisses,

mas josé)

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