sábado, 30 de novembro de 2013
TOMAZ KIM - ESTA PERGUNTA
ESTA PERGUNTA
TOMAZ KIM
esta pergunta obcecante,
torturando, deixando
os nervos em chama;
esta pergunta -
o nosso fim.
esta pergunta obcecante,
lacerando,
deixando
o cérebro febril;
esta pergunta -
a nossa cruz.
esta pergunta obcecante,
fustigando,
deixando
a alma doente;
esta pergunta -
o nosso X.
esta pergunta obcecante,
queimando...
esta pergunta -
de onde, para onde!?
NEL CÂNDIDO - QUANTO AMO EU A HUMANIDADE INTEIRA
QUANTO AMO EU A HUMANIDADE INTEIRA
NEL CÂNDIDO
Quanto amo eu a humanidade inteira!
Admiro-me com suas maravilhas,
as conquistas, as ciências e as artes.
E comove-me às lágrimas suas dores,
as tragédias e a natureza em fúria.
Entretanto, sinto o coração fechar-me
quando vejo as ações de alguns perversos,
que despertam no mais fundo de minh'alma
os piores sentimentos que há em mim.
Como é possível amar a humanidade
e sentir pelo indivíduo o que sinto?
ANTONIO BRASILEIRO - MELOPÉIA
MELOPÉIA
ANTONIO BRASILEIRO
Ai esta vontade imensa de calar!
De esparramar o pó dos pensamentos
tão longa e longamente arquivados;
de apagar os rastros e os projetos
e incendiar a estante de mil livros;
de consumar o amor num esquecimento
geral, completa e desprendidamente -
aí, semear beldroegas na avenida
e apascentar rebanhos de mamutes;
aí, gargalhar nas noites novilúnias
como se louco ou iluminado;
adormecer serenamente: nu,
liberto, vasto, inverossímil.
Ah esta vontade imensa de falar!
JOSÉ MARIA ALVES - NEM UMA ARAGEM
NEM UMA ARAGEM
JOSÉ MARIA ALVES
Nem uma aragem
Para lá da minha janela
E eu olho quase sem ver.
Anoitece a serra de contornos sublimes.
Uma nuvem negra descansa em Alfátima
Enquanto os luzeiros da aldeia se acendem
E inerte está a folhagem que resta
Num universo que sinto meu.
Fenece o dia.
Floresce a noite
Com suavidade e beleza.
Escrevo como o pássaro
Que canta sem desejos
Como o rio que corre no seu leito
E a estrela que nasce a Oriente.
Escrevo por impulso
Ou necessidade,
Escrevo a eito
A uma qualquer hora
Do sol nascente ao poente
Do crepúsculo à aurora.
Escrevo por amor
A esta Serra que sou eu.
GREGÓRIO DE MATTOS - A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR
A JESUS CRISTO NOSSO SENHOR
GREGÓRIO DE MATTOS
Pequei, Senhor; mas não porque hei pecado,
da vossa Alta Clemência me despido;
porque, quanto mais tenho delinquido,
vos tenho a perdoar mais empenhado.
Se basta a vos tirar tanto pecado,
a abrandar-vos sobeja um só gemido:
que a mesma culpa, que vos há ofendido,
vos tem para o perdão lisonjeado.
Se uma ovelha perdida e já cobrada
glória tal e prazer tão repentino
vos deu, como afirmais na Sacra História,
eu sou, Senhor, a ovelha desgarrada;
cobrai-a; e não queirais, Pastor Divino,
perder na vossa ovelha a vossa glória.
EMÍLIO DE MENEZES - NOITE DE INSÔNIA
NOITE DE INSÔNIA
EMÍLIO DE MENEZES
Este leito que é o meu, que é o teu, que é o nosso leito,
Onde este grande amor floriu, sincero e justo,
E unimos, ambos nós, o peito contra o peito,
Ambos cheios de anelo e ambos cheios de susto;
Este leito que aí está revolto assim, desfeito,
Onde humilde beijei teus pés, as mãos, o busto,
Na ausência do teu corpo a que ele estava afeito,
Mudou-se, para mim, num leito de Procusto!...
Louco e só! Desvairado! - A noite vai sem termo
E, estendendo, lá fora, as sombras augurais,
Envolve a Natureza e penetra o meu ermo.
E mal julgas talvez, quando, acaso, te vais,
Quanto me punge e corta o coração enfermo,
Este horrível temor de que não voltes mais!...
domingo, 24 de novembro de 2013
ME DIZ AMOR & TARECO E MARIOLA
ME DIZ AMOR
COMPOSIÇÃO DE: ACCIOLY NETO
CANTA: FLÁVIO JOSÉ
Me diz amor como é que vai ficar
Meu coração
Sem teu amor
Sem teu calor
Sem teu carinho
Na solidão
Só de pensar me dá um arrepio
Tudo é tão vazio, sem você amor
Não imagino nem por um segundo
Viver pelo mundo sem o teu calor
Quando me deito, quando me levando
Procuro no canto e você não está
Não faça isso nem de brincadeira
Que a saudade é traiçoeira e vai matando devagar
Me diz amor como é que vai ficar
Meu coração
Sem teu amor
Sem teu calor
Sem teu carinho
Na solidão
TARECO E MARIOLA
COMPOSIÇÃO DE: PETRÚCIO AMORIM
CANTA: FLÁVIO JOSÉ
Eu não preciso de você
O mundo é grande e o destino me espera
Não é você que vai me dar na primavera
As flores lindas que eu sonhei no meu verão
Eu não preciso de você
Já fiz de tudo pra mudar meu endereço
Já revirei a minha vida pelo avesso
Juro por Deus não encontrei você mais não
Cartas na mesa
O jogador conhece o jogo pela regra
Não sabes tu eu já tirei leite de pedra
Só pra te ver sorrir pra mim não chorar
Você foi longe
Me machucando provocou a minha ira
Só que eu nasci entre o velame e a macambira
Quem é você pra derramar meu mungunzá
Eu me criei
Ouvindo o toque do martelo na poeira
Ninguém melhor que mestre Osvaldo na madeira
Com sua arte criou muito mais de dez
Eu me criei
Matando a fome com tareco e mariola
Fazendo versos dedilhados na viola
Por entre os becos do meu velho Vassoural.
OLEGÁRIO MARIANO - VÍCIO DO MEU AMOR
VÍCIO DO MEU AMOR
OLEGÁRIO MARIANO
Como um lírio de pétalas fanadas
Ela surgiu-me um dia:
Olhos sem vida, pálpebras cansadas,
E um filete de voz que mal se ouvia...
Dei-lhe o melhor amor que em mim havia...
Depois, no espasmo do meu desespero,
Gritei por ela quando me fugia
E a sua voz sem timbre me dizia:
- Vício do meu Amor, quanto eu te quero!
E hoje eu vejo quanto ela me queria!
MÁRCIO CASTRO DAS MERCES - VIAGEM
VIAGEM
MÁRCIO CASTRO DA MERCES
Surgiu no espaço silencioso
na noite fria, espectral
a luz silente, fulgurante, linda
da Estrela de Cristal...
Ei-la!... cadente esfera luminosa
crisálida fluorescente... peregrina, louca
nesse infinito mergulho
rumo a Eternidade...
- E...
em meio a imensa bruma que envolve a terra,
o pântano sombrio
- surge uma sombra, trôpega, em delírio...
vem sem descanso... trêmula, sedenta...
seu corpo, doentio, flagelado
sucumbe vagarosamente...
- O olhar extático, febril... procura...
- qual ave fugitiva, mortalmente ferida
perscruta o céu num voo solitário.
- Então...
rompe-se o elo!...
desmorona-se o cárcere!...
- e a liberdade desponta, como o sol nascente...
iluminada e Viva.
Surge afinal no ardente infinito,
no primeiro alvorecer apocalíptico...
a Luz Celestina, magnificente...
Filha Feliz do encontro...
da Estrela e a sombra vacilante...
a Ave Cósmica...
JOÃO DE DEUS - ADORAÇÃO
ADORAÇÃO
JOÃO DE DEUS
Vi o teu rosto lindo,
Esse rosto sem par;
Contemplei-o de longe mudo e quedo,
Como quem volta de áspero degredo
E vê ao ar subindo
O fumo do seu lar!
Vi esse olhar tocante,
De um fluido sem igual:
Suave como lâmpada sagrada,
Benvindo como a luz da madrugada
Que rompe ao navegante
Depois do temporal!
Vi esse corpo de ave,
Que parece que vai
Levado como o Sol ou como a Lua
Sem encontrar beleza igual à sua;
Majestoso e suave,
Que surpreende e atrai!
Atrai e não me atrevo
A contemplá-lo bem;
Porque espalha o teu rosto uma luz santa,
Uma luz que me prende e que me encanta
Naquele santo enlevo
De um filho em sua mãe!
Tremo apenas pressinto
A tua aparição,
E se me aproximasse mais, bastava
Pôr os olhos nos teus, ajoelhava!
Não é amor que eu sinto,
É uma adoração!
Que as asas providentes
De anjo tutelar
Te abriguem sempre à sua sombra pura!
A mim basta-me só esta ventura
De ver que me consentes
Olhar de longe... olhar!
JUDAS ISGOROGOTA - SAUDADE
SAUDADE
JUDAS ISGOROGOTA
Mudos, olhando o embalo das maretas
os dois homens pararam; junto ao cais,
balouçantes, enormes silhuetas
de velhos barcos setentrionais
faziam retinir, como grilhetas,
os elos das correntes colossais...
Foi olhando essas naus, à Ave Maria,
na hora em que tudo em solidão se vê,
que aqueles homens rústicos, um dia,
choraram muito sem saber porquê...
RUY BURITY DA SILVA - FRUSTRAÇÃO
FRUSTRAÇÃO
RUY BURITY DA SILVA
hoje queria ter algo de novo
(qualquer coisa de diferente
no marasmo destes dias
sempre iguais)
para te oferecer
como dádiva de carinho
hoje
um dia único na sequência
dos nossos dias sempre marcados
no formar de pensamentos
a recrear alento
para o canto de outro dia
hoje
quisera ter a graça do indefinido
a vibratilidade do oculto
e voltejar místicas expressões
na leitura de teus sonhos
de teus sonhos-meninos
mas hoje que tanto quisera ser
pesam-me as ideias
e a imaginação cansa
como ferro trabalhado
pela inspiração do ferreiro
caindo para o letargo
hoje
tenho o lúbrico dos homens
secos pra o amor
divorciado interiormente
daquele saber fazer
dos dias inspirados
hoje
precisamente hoje
que tanto desejava ser
AGOSTINHO NETO - NÃO ME PEÇAS SORRISOS
NÃO ME PEÇAS SORRISOS
AGOSTINHO NETO
não me exijas glórias
que ainda transpiro
os ais
dos feridos nas batalhas
não me exijas glórias
que eu sou o soldado desconhecido
da humanidade
as honras cabem aos generais
a minha glória
é tudo o que padeço
e que sofri
os meus sorrisos
tudo o que chorei
nem sorrisos nem glória
apenas um rosto duro
de quem constrói a estrada
por que há de caminhar
pedra após pedra
em terreno difícil
um rosto triste
pelo tanto esforço perdido
- o esforço dos tenazes que se cansam
à tarde
depois do trabalho
uma cabeça sem louros
porque não me encontro por ora
no catálogo das glórias humanas
não me descobri na vida
e selvas desbravadas
escondem os caminhos
por que hei de passar
mas hei de encontrá-los
e segui-los
seja qual for o preço
então num novo catálogo
mostrar-te-ei o meu rosto
coroado de ramos de palmeira
e terei para ti
os sorrisos que me pedes.
LUÍS GUIMARÃES JUNIOR - A JANGADA
A JANGADA
LUÍS GUIMARÃES JUNIOR
Cinco paus mal seguros e enlaçados
Vão através dos ventos tormentosos:
Neles confiam mais que jubilosos
Dois pescadores nus e desgraçados.
Essa prancha que em saltos arrojados
Corta o mar como os lenhos poderosos,
Resume a vida, a fé - resume os gozos
Dos miseráveis rotos e esfaimados.
Nós também, alma minha, as desventuras
Bem conhecemos: - forte e esperançada
Sulca do mundo o pranto e as vagas duras.
Que importa! A crença é tudo e a morte é nada,
E neste fundo abismo de amarguras
Uma esperança vale uma jangada.
ANTONIO MIRANDA - MEU NOME
MEU NOME
ANTONIO MIRANDA
I
Antonio, menino, vamos conversar:
por que foges do castigo, se ele vai te alcançar?
Prá que tanta rebeldia, socando ponta de faca?
Aonde te levam estas pernas de caminhar
tantas fugas, recusas, tanto ensimesmar?
Antonio, menino, por que blasfemas?
Que te leva ao prazer do sofrimento
ao pensamento avesso ou travesso
a contradizer o sim e a reiterar sempre o não?
De onde vêm estas ideias de suicídio
enquanto amas saturado e satisfeito?
II
Tantas páginas escreves! Tantas leituras
apressadas, tanta angústia de ser
tantas perguntas impossíveis, desejos
sonhos absurdos, planos inconsequentes!
Que amigos são esses que não voltarás a encontrar?
Que lugares tu buscas que deixarão de existir?
Que amores te queimam que se vão dissipar?
Que ideias te movem que logo vais superar?
Acaso essa birra vale o que a motiva?
III
Frente a frente, somos dois desconhecidos
que se negam, contradizem, se acusam.
Espelho maldito a revelar o nosso estranhamento.
Não me acuses do que não fostes capaz!
Nada sou daquilo que pretendias ser!
Nunca fui amado tanto quanto querias!
Nem amei tanto quanto querias que eu amasse...
IV
Antonio, por favor, reconheça o teu fracasso
deixa espaço para eu existir
sem ter que justificar-me diante de ti!
Deixa eu ser feliz no meu conformismo
- de achar que tenho o que mereço
enquanto tu deliras e deliras!
Por que estragas o meu sossego tão frágil
azedas a minha felicidade tão precária?
A partir de hoje o meu nome é Outro.
FLORBELA ESPANCA - ÁRVORES DO ALENTEJO
ÁRVORES DO ALENTEJO
FLORBELA ESPANCA
(Ao Prof. Guido Battelli)
Horas mortas... Curvadas aos pés do Monte
A planície é um brasido... e, torturadas,
As árvores sangrentas, revoltadas,
Gritam a Deus a benção duma fonte!
E quando, manhã alta, o sol posponte
A oiro a giesta, a arder, pelas estradas,
Esfíngicas, recortam desgrenhadas
Os trágicos perfis no horizonte!
Árvores! Corações, almas que choram,
Almas iguais à minha, almas que imploram
Em vão remédio para tanta mágoa!
Árvores! Não choreis! Olhai e vede:
- Também ando a gritar, morta de sede,
Pedindo a Deus a minha gota de água!
JUDAS ISGOROGOTA - A MULHER QUE NÃO ERA BONITA
A MULHER QUE NÃO ERA BONITA
JUDAS ISGOROGOTA
Talvez, porque viesse angustiado, aflito,
Amei uma mulher que não era bonita...
Mas eu sei que não foi. Foi amor e sincero;
Tanto a amei, tanto a quis, que inda a amo e inda a quero...
Capricho, coração, uma coisa qualquer,
Porque se quer e estima e se ama uma mulher?...
Vocês hão de dizer "Todo rapaz é assim".
Fecha os olhos e diz sinceramente: "Sim".
O amor prende, o amor cega, o amor faz o que quer.
Fez-me, portanto, amar a primeira mulher.
Infelizmente, nem ela própria acredita
Que se ame uma mulher que não seja bonita.
ANTERO ABREU - COISAS LILASES
COISAS LILASES
ANTERO ABREU
as coisas lilases são as bonitas
e surpreendentes, embora haja coisas que
também o são, e talvez mais.
sonhos lilases (as flores), e vestidos lilases,
e as olheira lilases das heroínas
dos romances românticos.
lilás é bom. e doce. entristece-nos e
reconforta-nos. o meu pensamento,
neste momento, é lilás.
hei de enviar-te um ramo de lilases,
com um cartão escrito em tinta lilás.
lê-lo-as, ao cartão escrito em tinta lilás,
e aqui e ali rirás, sabe-se lá. um riso
lilás. helás!
segunda-feira, 11 de novembro de 2013
MÁRCIO CASTRO DAS MERCÊS - PENSAMENTOS... REFLEXÕES... SUBLIMAÇÃO...
PENSAMENTOS... REFLEXÕES... SUBLIMAÇÃO...
MÁRCIO CASTRO DAS MERCÊS
Posso experimentar todas a s coisas...
melhor, posso pensar se devo experimentá-las todas...
pois nem todas as coisas me convêm...
Posso sentir todos os sentimentos...
melhor, posso pensar se devo senti-los todos...
um de cada vez...
todos, quem sabe?...
porém devo pensar em não experimentar,
sentir todas as coisas, sentimentos...
para não ter que vir a padecer na alma,
a dor de tudo aquilo que não me convêm...
Posso provar do prazer de todos os atos,
pensamentos, sentimentos...
melhor, maior proveito terei se refletir...
se ponderar se me convêm provar dessas migalhas...
qual ave prisioneira... num cárcere tristonho...
Todavia a Grande Voz
emerge das profundidades de meu ser
e exalta em mim a consciência
de que meu pensamento
ascenderá inexoravelmente
à Grande Mente,
Nascente da Luz...
Manancial da Vida
e afirmará a eternidade...
o Infinito...
onde o Espírito, qual ave cósmica...
livre como a própria liberdade...
há de cantar feliz...
JAYME DE ALTAVILA - O ENCONTRO
O ENCONTRO
JAYME DE ALTAVILA
U'a mulher que passa um dia em nossa vida
Toda vestida de preto, muito alva, muito fina,
Não é nada.
U'a mulher de voz sonora e de boca florida
Que esteve perto a nós, perturbante, misteriosa,
Não é nada.
U'a mulher de mãos de cera e de unhas de rosa
Que não nos disse uma palavra de carinho,
Não é nada.
U'a mulher que ouviu acaso nosso nome
Numa hora de tumulto e que seguiu outro caminho,
Não é nada.
Mas, se essa mulher de preto, muito alva, muito fina,
Nos olhou, de relance, comovida,
Essa mulher é tudo; essa mulher não sairá,
Nunca mais, de nossa vida.
OLEGÁRIO MARIANO - DO SONHO E DO SOFRIMENTO
DO SONHO E DO SOFRIMENTO
OLEGÁRIO MARIANO
Por que há de o Sonho ser tão breve,
Durar tão pouco, meu amor?
O Sonho tem o efêmero sabor
Da frase que se pensa e não se escreve.
Passa, mas deixa como em cofre
Antigo, de metal lavrado,
Um pouco do perfume do Passado
Que é o resto do infortúnio de quem sofre.
Passa, mas sempre fica a flama
De uma saudade benfazeja:
Perfume do pescoço que se beija,
Sombra do corpo da mulher que se ama.
Depois, no fundo da alma doída,
É que sentimos para nós crescer
Essa imensa vontade de morrer
E esse desprezo imenso pela Vida...
NEL CÂNDIDO - JAZES EM TUA PEQUENA TUMBA FRIA
JAZES EM TUA PEQUENA TUMBA FRIA
NEL CÂNDIDO
Jazes em tua pequena tumba fria.
Na imensa e aquecida cama,
abraço com braços e pernas
os nossos e macios travesseiros,
relembrando nossas noites de carinho.
Uma lágrima que desliza até meus lábios
salga-me a boca, como outrora a tua pele.
Porém, sozinho, não há gozo... só saudade.
JOSÉ MARIA ALVES - NA TUA PARTIDA
NA TUA PARTIDA
JOSÉ MARIA ALVES
se é hoje que partes
leva contigo a minha tristeza
e ao chegar não a guardes
deita-a ao mar nessa beleza
que não amealha mágoa ou saudade
porque a vida de quem ama é mudança
e viver de amor só se vive em liberdade
mesmo que nada reste da esperança
nunca os anos são perdidos
e os amores desperdiçados
no terno coração dos amantes
há sempre um pedaço
do amor passado
lembrado em vívidos instantes
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