domingo, 5 de maio de 2013

AMÉLIA VEIGA - INÚTIL


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INÚTIL

AMÉLIA VEIGA

Inútil beber o perfume
De estrelas ignoradas...
Inútil encharcar os olhos 
Na neblina azul das madrugadas...

Inútil este meu escancarar
De secretas cadeias...
Inútil a comoção
Que me percorre as veias...

Inútil o esforço heróico
Do meu ventre...
A esperança está morta
... Ou doente...

Pássaro, que esvoaças
Num céu que o sol enfeita,
Não pressentes o tiro
Que te espreita?

Semente, que irrompes
Alucinada de calor e terra, 
Não pressentes a bota 
Que te calca e enterra?

Música que te evolas
Em ritmos de cor e poesia,
Não presentes o trovão
Que te confunde a agonia?

Vida,
Que brilhas nos olhos das crianças,
Para que mentes,
Para que enfeitas de luas e esperanças
Os teus cancros de pus?

Vida,
Para que nos serves lama
Em bandejas de luz?

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