sábado, 27 de abril de 2013

ADALGISA NERY - A UM HOMEM




A UM HOMEM

ADALGISA NERY

Quando numa rocha porosa
Cansado te encostares
E dela vires surgir a umidade e depois a gota,
Pensa, amado meu, com carinho,
Que aí está a minha boca.

Se teus olhos ficarem nas praias
E vires o mar ensalivando a areia
Com alegria pensa, amado meu, 
Num corpo feliz
Porque é só teu.

Se descansares sob uma árvore frondosa

E além da sombra ela te envolver de ar resinoso
Lembra-te com entorpecência, amado meu,
Da delícia do meu ventre amoroso.

Quando olhares o céu
E vires a andorinha tonta na amplidão
Pensa, amado meu, que assim sou eu
Perdida na infindável solidão.

A noite quando as trevas chegarem
E vires do firmamento
Uma estrela cair e se afundar
É sinal, amado meu,
Que o teu amor vai me abandonar.

Na morte, quando perderes o último sentido
E a tua própria voz
Em forma de pensamento
Te subir ao ouvido
Deixa escorrer a derradeira lágrima pelo teu rosto
Nascida do extremo alento do coração
E pensa então, amado meu,
Que ainda é um suave carinho da minha mão!

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