sexta-feira, 22 de janeiro de 2016
DONIZETE GALVÃO - SIMULACROS
SIMULACROS
Para Christina Menezes de Azevedo
DONIZETE GALVÃO
Senhoras e senhores, o circo já ergueu sua lona.
Vêm o prefeito, a beldade, as mulheres da zona.
Todos se divertem com o espetáculo do ilusório.
Está aberto o reino do precário e do provisório.
Rufam todos os tambores, abrem-se as cortinas.
Nossa trupe mambembe exibe suas dores e sinas.
A orquestra toca Bolero: o ritmo vais crescendo.
A fraque do maestro tem no braço um remendo.
Eis Crystal Kimberley, a rainha do strip-tease.
Saiu do sertão do Sergipe, de nome Wandernise.
A mulher-rã, contorcionista vinda do circo russo,
Depila pernas e sovacos, mas se esquece do buço.
Com vocês, uma feroz leoa da savana africana.
Barriga vazia, não come gato há uma semana.
A pássara Tatiana, trapezista bela e impávida,
Esconde do amante domador que está grávida.
Anaïs, índia guarani, que é exímia equilibrista,
Carece de vitaminas e de ir urgente ao dentista.
Alegria da criançada, o nosso palhaço Arrebita,
No trailer sujo, teve macarrão e ovo na marmita.
De noiva, vai-se casar uma anã, loira oxigenada.
Que graça! Puxam-lhe o vestido e ela corre pelada.
Aplausos para o salto mortal de sonho e pobreza.
Onde uns vêem o belo, outros enxergam a tristeza.
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