quinta-feira, 3 de abril de 2014

MANUEL BANDEIRA - FELICIDADE




FELICIDADE

MANUEL BANDEIRA

A doce tarde morre. E tão mansa
Ela esmorece
Tão lentamente no céu de prece,
Que assim parece, toda repouso,
Como um suspiro de extinto gozo
De uma profunda, longa esperança
Que, enfim, cumprida, morre, descansa...

E enquanto a mansa tarde agoniza,
Por entre a névoa fria do mar
Toda a minhalma foge na brisa:
Tenho vontade de me matar!

Oh, ter vontade de se matar!
Bem sei é coisa que não se diz.
Que mais a vida me pode dar?
Sou tão feliz!

- Vem, noite mansa...

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